2 de outubro de 2017

Autárquicas '17.


   Sem grandes surpresas ao centro, as eleições autárquicas deste domingo vieram confirmar as nossas suspeitas. O Partido Socialista, pela retoma económica do país, foi o grande vencedor da noite eleitoral, ao ter atingindo um resultado histórico em autárquicas, muito embora, em Lisboa, tenha perdido a maioria, o que obrigará a consensos. Nos antípodas, o PSD teve o pior  em quarenta e três anos de democracia. Um corte definitivo com o passado, a ruptura com Pedro Passos Coelho e com as suas políticas, que em verdade não deixaram saudades nos portugueses. O presidente do PSD prejudicou mesmo a marca "PSD" e alguns bons autarcas, que acredito que os haja, no seio do seu partido. É um homem teimoso, que insiste no suicídio político. Foi penoso ouvi-lo ontem, no seguimento do desastre em Lisboa, no Porto e em vários municípios do norte do país. Nos dois principais centros urbanos, posicionou-se como terceira força. A mensagem política é clara. Afastada que está a demissão, é provável que aguarde pelas primárias de Janeiro. Recandidatar-se à liderança é que não adivinho como possível, a menos que tenha perdido toda a dignidade e o que lhe resta, se restar, de bom senso.

    A estupefacção, quanto a mim, veio com os resultados da extrema-esquerda. O BE elegeu um vereador em Lisboa e aumentou a representatividade pelo país, mas a CDU perdeu bastiões comunistas no Alentejo e no distrito de Setúbal, como Almada e o Barreiro desde 1976. As forças de suporte ao Governo, pelo bom desempenho deste, saem prejudicadas. Para favorecer o PS, o eleitorado retirou peso político à CDU. Imagino a inquietação entre os comunistas, e estou de certo modo curioso para ver quais serão as suas relações com o PS a partir de agora. A extrema-esquerda portuguesa é, por natureza, contrapoder. A "geringonça", como lhe chamam, surgiu da necessidade de quebrar com um ciclo de austeridade. Com a economia estabilizada e com uma derrota eleitoral no saco, não vislumbro um PCP submisso, em consonância como até então, embora Jerónimo de Sousa evite traçar o paralelismo.

   Quanto ao CDS, conseguiu mais um município e obteve uma votação muito favorável em Lisboa. Eu, todavia, refrearia estes ânimos na capital, salvaguardando o conjunto. Quem ouvir Assunção Cristas, julgará que está perante a nova presidente da câmara. Em abono da verdade, fez uma boa campanha em Lisboa, pelo que merece os louros. Pôs o PSD para trás e reconfirmou a liderança no partido. Vejo-a como uma potencial líder da direita, que está órfã de uma referência. O partido soube fazer a transição entre um Paulo Portas desgastado por quatro terríveis anos de poder e uma centrista carismática.

    No Porto, o independente Rui Moreira, com maioria absoluta, renovou o mandato. Será em Isaltino Morais, passando pelos independentes, que temos a prova inequívoca de que a fama bate a idoneidade. Eleito com maioria absoluta à frente de Oeiras.

    As autárquicas têm uma leitura política nacional, como bem se viu.  Não raras vezes servem de cartão amarelo à governação, sendo que estas, de 2017, ficarão para a história como um castigo ao maior partido da oposição pelas suas políticas de 2011 a 2015, pela retórica gasta e crispada de Pedro Passos Coelho e pela desorientação e falta de visão política do PSD.  Há muito que aludo a uma urgente mudança. Entretanto, ninguém dá sinais de querer assumir as rédeas do partido. Todos se divorciaram desse passado negro intimamente ligado à dita troika. O grande erro, ainda voltando a Pedro Passos Coelho, foi o de supor que ou o país naufragaria ou os acordos com a extrema-esquerda não iriam tão longe. Falhou em ambas as análises.

     E em Loures, cidade limítrofe tão falada ultimamente, e para terminar, André Ventura, o populista candidato, não foi além de um terceiro lugar. A retórica extremista, em Portugal, decididamente não tem espaço. Foi uma má aposta, perdida. Os costumes do país não se compatibilizam com discursos reaccionários, sem prejuízo, devo dizer, de lhe reconhecer alguma razão no que disse ao longo da campanha - e foi também o entendimento do eleitorado, que deu, em Loures, um vereador ao PSD.

2 comentários:

  1. Pois a minha alma está parva com estes resultados... Enfim, manda a maioria

    Abraço amigo

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    1. É, mas não me surpreendem, não ao centro.

      um abraço, amigo.

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