4 de julho de 2017

O furto de Tancos.


    Após os terríveis acontecimentos em Pedrógão e lugarejos vizinhos, o país acordou para outra polémica, distinta, mas com consequências potencialmente mais danosas numa perspectiva a longo prazo. Falo-vos do desaparecimento de arsenal bélico de dois paióis de Tancos. Um caso envolto em mistério, que a Comunicação Social vem tratando como um roubo. Ora, eu presumo que já uma vez terei feito menção à necessidade que os jornalistas têm de algum aprofundamento jurídico. O Direito e a Política andam de mãos dadas. Só por aí valeria a pena. Meus senhores, não houve nenhum roubo. Que se saiba, o material foi furtado. Não houve coacção sobre qualquer militar para que se desse a subtracção daqueles artefactos. Chamem-lhe preciosismo, mas o rigor nunca fez mal a ninguém.

     Este episódio deixa o Exército numa situação de falência junto da opinião pública, de profundo descrédito. Os portugueses não confiam nas instituições. O Exército, sendo um dos ramos das Forças Armadas, é um dos garantes da independência nacional, da manutenção do Estado de Direito. A idoneidade dos militares deve ser total. Suspeita-se que houve colaboração de alguém do Exército, ou seja, é a própria instituição que está em causa. Há bem pouco tempo, tivemos o caso dos comandos que morreram em exercícios. A páginas tantas, perguntamo-nos, legitimamente, acerca do que se passa no seio do Exército. O Presidente da República, como Comandante Supremo das Forças Armadas, deve aqui adoptar uma postura firme e deixar-se de palavras vãs. Ainda não ouvi, da parte do Senhor Presidente, um comunicado sério ao país. Passando ao Governo, a indiferença tem sido de uma infâmia com os cidadãos. Está em causa a imagem de Portugal no exterior e a própria segurança interna. Não sabemos qual será o destino daquele material, se o mercado negro, se um conflito armado qualquer, se um acto terrorista, inclusive por cá. A responsabilidade deve ser apurada, desde quem  tem a tutela até aos militares. Não simpatizo com Assunção Cristas, todavia devo dizer que cumpriu com o seu papel enquanto líder de um partido da oposição: questionou o Governo, reuniu-se com o Presidente da República e expôs ao país a sua apreensão. Fez o que lhe competia. Exigiu a demissão do ministro que detém a pasta da Defesa. Bom, eu não veria com maus olhos a sua substituição. Não tem, no meu entender, condições para se manter no Governo, e já tivemos casos de ministros que foram afastados por muito menos.

      De igual modo, incomoda-me o destaque que a imprensa espanhola tem dado ao caso. Compreendo que seja do interesse do Estado vizinho inteirar-se da situação, e segundo consta o Governo terá enviado aos seus parceiros um inventário do arsenal desaparecido, mas a publicação detalhada de cada artefacto, a pormenorização, não é própria quando se trata de um assunto que diz respeito a um outro Estado soberano. Com os incêndios, também houve o que na altura me pareceu uma ingerência mal dissimulada, em tentativas de descredibilizar o Governo, que é de esquerda, procurando-se evitar um arranjo semelhante por lá.

       É um assunto que está na ordem do dia, que me inquieta. A Comunicação Social é de modas, e não tarda dará lugar a outro e a outro. Eu não me esquecerei dele. Creio que ainda não entendemos a gravidade desta ocorrência, o desprestígio e a perigosidade que acarreta. É a primeira verdadeira crise que poderá abalar o Governo, que sempre apoiei, junto à catástrofe de Pedrógão. Está muito por explicar, há inúmeras perguntas sem resposta e exige-se, exige-se, uma decisão muito contundente do Primeiro-Ministro após a investigação levada a cabo pela Polícia Judiciária e pela Polícia Judiciária Militar.

6 comentários:

  1. E assim vamos escrevendo nossa história dia a dia ... muito preocupante ...

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  2. Portugal é a Anedota do Ano lololololo Já nem sei se ria ou se chore

    Abraço amigo

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    1. Os anteriores governos também deram o seu contributo.

      um abraço.

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  3. Conheço relativamente bem a instituição militar e sei - e sabemos todos - o quão podre, morta, anafada e inerte está.

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    1. Epá, tens de facultar os contactos ao Francisco. (risos)

      Sim, até casos de homofobia.

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