31 de dezembro de 2014

Retrospectiva.


   Último dia do ano. As pessoas caminham apressadamente. A excitação é perceptível no ar. Renovam-se os votos de um "bom ano". A velhinha que saúda uma transeunte mais nova. As mãos, encarquilhadas do frio e adivinhando uma vida de árduo trabalho, seguram nas da jovem, ágil, plena de força, desejando-lhe "o melhor que há", descrendo o mesmo para si. É viúva, e os sonhos já lá vão.

    A camisa está-lhe claramente apertada. António não quer saber, chama-o o amigo, ao longe. Corre pela avenida com uma caixa de pastelaria, qual malabarista, de telemóvel em riste. Acerta com a mulher os últimos pormenores "do jantar".

"Não enchas os miúdos de bolos antes da hora d'almoço!"

    A moça estava à frente no multibanco, mas o cavalheiro de nariz empinado atravessa-se, indiferente à prioridade de quem está atrás. Há exaltação! A rapariga excede-se, manda-o "bugiar". O homem ajeita o cachecol, indignado. Ele, que é um senhor!, vai lá perder a sua compostura com uma moçoila de lábios ressequidos e de cabelo desalinhado...

    Espreito para dentro do estabelecimento e cumprimento a Dona Adelina. Sai detrás do balcão e vem dar-me um beijinho. Elogia-me. "Está tão crescido, e a barba fica-lhe tão bem, menino! Então, e já temos doutor?" Entre um café, curto, meias de leite e sandes de queijo que vai servindo aos clientes, pergunta-me pelos avós, pela mãe, pelo pai - já vos disse que ainda há quem pense, quase dez anos volvidos, que eles estão juntos?

    Saio. Tenho frio. São onze da manhã e palmilhei ruas e ruelas. Olho para o ano que finda sem saudade alguma. Como previra, foi mau, não tanto como outros que o antecedem, mas, ainda assim, mau. Junto as mãos à boca, em concha, e expiro o ar quente que trago nos pulmões. Esfrego-as. Esqueci-me das luvas em casa... Enfio-as nos bolsos e sigo.
       
     O ano que se aproxima não será melhor. Quanto a mim. A menos que surja algo inesperado e positivo. Não se confirmando esta última e irrealista hipótese, que seja um seguimento equilibrado deste do qual me despeço.
       Encontrar-nos-emos em dois mil e quinze. Até lá!

27 de dezembro de 2014

Dias de Dezembro.


   Passei o Natal tranquilamente, entre diálogos e alguns sorrisos, sinceros. Sendo três, nem por isso descurámos a ornamentação da mesa. A mãe teve o cuidado de comprar os doces habituais, que prontamente dispersámos pela sala de jantar.
     O meu irmão chegou perto da hora da consoada, já o aguardávamos com impaciência. Gosto de o ver. Admiro a sua agilidade de raciocínio, o sentido prático. Vinha com três grandes caixas na mão e dois sacos na outra. Fiquei tão alegre ao vê-lo entrar por aquela porta, despir o casaco, jogá-lo inconscientemente, abraçar-me e à mãe cheio de carinho. Pediu-me para que tirasse os dois embrulhos dos sacos e os colocasse na árvore.
     Como se aqui não tivesse morado, tece observações sobre isto e aquilo, tal um hóspede íntimo. Torna-se caricato e engraçado. A mãe fica sempre entusiasmada quando o vê. O regresso do seu menino. Um amor que transborda olhares, gestos. Relacionado com o seu pai. Há qualquer coisa mal resolvida com aquele relacionamento relâmpago que deu um fruto, o melhor do pomar da mãe, digo-o eu.


    Depois do jantar, polvo cozido com legumes, abrimos uma garrafa de licor e até fiz um brinde. Ao momento, não ao futuro. Os sonhos, esses, expiraram algures. Não retive na memória. Entretanto, comi dois
      À meia-noite, poucos minutos a mais contava o relógio, abrimos os presentes. Oito embrulhos. Dois da mãe e dois do meu irmão, e cada um deles recebeu dois presentes, um de cada. A mãe ofereceu-me um telemóvel novo, com aplicações que nunca tinha visto. Recebi um perfume, também. Do meu irmão recebi um livro com citações do Nietzsche, que a juntar ao que comprei perfaz dois livros para mim, e uma gravata. Prescindia de tudo aquilo apenas pela companhia, pelas horas tão reconfortantes. Senti-me protegido, de um modo que não sentia há muito. Eles estavam ali, éramos uma família.

        Ficou por cá. Deitei-me sobre a colcha da sua cama de solteiro, e falámos, falámos.
        A madrugada dormiu tarde.

24 de dezembro de 2014

Feliz Natal.


   O Natal é uma festividade cristã que se estendeu para além dos seus fiéis, conquistando pessoas de outros credos. Fica bem patente o carácter universal, estimulado pelo impacto das sociedades ocidentais por todo o mundo. Associado, inevitavelmente, à neve, ao frio, aos jantares à beira da lareira, aos filmes ternos cómico-românticos, às reuniões familiares, à doçaria característica, aos presentes, a dias de paz e de comunhão, há quem o passe com muito calor, no hemisfério sul, sem lareira. Quem o passe só, sem ter acesso aos doces e demais iguarias, aos presentes. A fazer a guerra. Nisto, como em tudo, sobressai as desigualdades. Será mais um dia do calendário, ou dois.


   É, seguramente, uma quadra bonita. Colorida, de cheiros e sabores, gargalhadas soltas. De partilhas. Algumas lágrimas. De recordar os que já não estão. De dar e receber, mais do que receber, por vezes, para alguns. Por tudo isso é Natal, com as imperfeições humanas cunhadas na celebração do nascimento do seu Messias.

      A todos, indiferentemente de onde ou como se encontrem, os votos de um feliz Natal.

22 de dezembro de 2014

Christmas.


    As aulas terminaram na sexta, não sem a entrega de um relatório a ser corrigido durante a época festiva. Já saí da faculdade tardíssimo, dado que estive a conversar com um professor. Descobri que a faculdade está sempre aberta, de noite, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, de portas fechadas para o exterior. Há professores que ficam lá dentro... Há quatro anos que lá estou e só agora o soube. Curioso.

    O Natal será com a mãe e o meu irmão. Apenas os três. À semelhança do ano passado, a mãe atendeu ao meu pedido de não nos juntarmos com qualquer outro familiar, a não ser a minha irmã, que por sua vez passará com a família do marido.
    Lá tive de lhes comprar uns presentes. Não que desgoste presentear os que me são mais próximos. Nada disso. Apenas pelo simples facto de querer, este ano, e pela primeiríssima vez, evitar centros comerciais.

     Passei pelo El Corte Inglés. Para o meu irmão, comprei um perfume. À mãe, um relógio. Ela gosta e tem imensos. Animou-me andar por lá, sentir a azáfama, a alegria das pessoas. Ouvir, inevitavelmente, as suas conversas nos elevadores, nos corredores. Muito embora me sentisse só. Por momentos, tinha setenta anos. Já não era jovem, agradável à vista, não suscitava qualquer reacção nos outros, preparando-me para uma consoada vazia. Recordava-me de amigos falecidos, alguns da blogosfera, e era tolhido por uma dor e uma solidão devastadoras. Parecia um pesadelo desperto. Tive de molhar o rosto e acalmar-me um pouco.

  Um livro é sempre um bom amigo. Nada queria comprar para mim. Entretanto, vi um livrito historiográfico, A Vida na Corte Portuguesa, de José Barata, que me interessou.
     O balcão dos embrulhos, este ano, ficou no piso térreo, por fora. Uma moça fez-me os embrulhos e reparou que não estava muito bem. Perguntou-me, num assomo de atrevimento/compaixão: "Que cara é essa?". Apenas consegui sorrir. Achei despropositado dizer algo. Não faria sentido.

      Lanchei no piso superior e depressa voltei para casa. Depositei os presentinhos aos pés da árvore.
      Será um Natal no recato do lar.

16 de dezembro de 2014

Os estilhaços da orfandade.


      A algum custo, armei a árvore de Natal. É grande, quase gigante, tem dois metros. Coloco-a, tão discreta como possível, a um canto da sala de estar. Bolinha ante bolinha, fui compondo-a sem entusiasmo. Ficou bonita. Não gosto de enfeites demasiado ostensivos, nem de árvores excessivamente ornamentadas. Este ano ficou em tons azuis e creme. Nada de cores quentes.

     Fi-lo sozinho. Há muito que se perdeu o espírito natalício. A mãe passa pouco tempo em casa. Tem dias que não vem. Sabe-me crescido, e sabe também que fico bem. A Ana está sempre por aqui. Ficar só por algumas noites tem sido perturbador. Ausências que me incomodam.
     Disse-lhe, há tempos, que devíamos mudar de casa. Esta é espaçosa demais e já não serve para o efeito. Talvez me sentisse mais aconchegado numa menor. Como sempre, ouviu-me entre leituras, sem me dar grande atenção. Nunca tem em consideração o que eu digo. Pensei em ir para a casa dos avós, mas isso provocaria algum alarme, um rol de perguntas.

    Ainda não sei onde estarei daqui a uma semana. Devo dizer que não me preocupa. Qualquer lugar, por mim, é bom. De preferência com poucas pessoas, recatado. Evito reuniões familiares, ainda que sabendo que o Natal, tendencialmente, é uma época de comunhão e harmonia. Muito desvirtuada do seu sentido primitivo, transformada que está em dias de consumismo desenfreado, em que se apela à solidariedade que não chega ao final do ano. Acredite-se ou não na palavra de Cristo, é provável que não apoiasse o circo criado em torno do seu nascimento (que, à partida, nem foi em Dezembro). Alimento a hipocrisia cristã, menos do que em anos anteriores, na linha do meu proto-ateísmo que tem vindo a acentuar-se nos últimos meses. Creio que consequência de um esvaziar de sonhos perante a constatação da solidão humana. Perante os deuses e perante os demais espécimes. Na senda de Hobbes, o Homem é mau. É o seu próprio lobo. Ataca sem piedade os que o rodeiam, e só não o faz com traços de crueldade sádica porque tem medo das consequências que advêm desse comportamento. Os que não o fazem. E se a religião e a cultura têm o dom de amenizar o instituto selvagem que jaz, latentemente, em nós, tanto melhor. Foi com o deus monoteísta que o Homem, enquanto ser criado à imagem e semelhança de Deus, passou a estar revestido dessa aura de respeito pela sua condição. Jesus pregou a igualdade, rejeitando o culto imperial. E por isso morreu. Por ser um profeta do amor, do desprendimento, da salvação que estava vedada até então. Bela e válida mensagem, seja como for.
      Assim a sigamos, na medida da nossa fraqueza.

11 de dezembro de 2014

Carta.


   Lisboa, aos onze de Dezembro de dois mil e catorze,

   A ti,

 
   Outro Natal se aproxima. Em todo o lugar me pedem sorrisos, os mesmos que forço para não ser questionado sobre o que me leva a não ter o optimismo e a sagacidade próprios da idade. E não preocuparia a mãe e a avó em vão, dado que nós sabemos o que sentimos e os nossos limites, mas os que nos amam não o sabem. Apoquentar quem mais me quer não consta dos meus planos para esta Consoada.

  Os estudos correm bem, felizmente. Estou quase de férias, depois de inúmeros relatórios e demais apresentações orais. Creio que venci a hesitação em falar, que demonstrei por variadíssimas vezes durante a licenciatura. Enriqueci as minhas capacidades de orador. Da vez inicial, o coração batia acelerado, a respiração era mais ofegante, as mãos estavam enregeladas. Para o fim, já o fazia razoavelmente descontraído e com o à-vontade exigível.

   Os dias não têm sido fáceis. Por fora, uma paz aparente; por dentro, estou aos gritos. Há dias, deixei cair a garrafa de água, a pasta, alguns livros e o estojo ao chão. Peguei em tudo aquilo de modo brusco, tremendo, sentindo a cólera no rosto, embora em silêncio, e só depois, olhando em redor, percebi que a minha reacção não fora normal. Desastres acontecem. Um rapaz com o qual troquei olhares, meses antes, observou-me movido por alguma compaixão, talvez desalento. Não soube interpretar o significado da sua expressão.

  Pondero nada comprar, inclusive para mim. Não há essa vontade, esse ânimo em encher-me de bens materiais que apenas abrandariam os ventos mais agrestes que sopram por aqui. Nenhum objecto traz conforto quando a instabilidade habita cá dentro. Alguns passeios têm surtido efeito. Por vezes, afastar-me, ainda que momentaneamente, tem sido benéfico. Munido de um caderninho, onde imprimo, a cunho, breves notas do que me rodeia, e ideias. Aguardo por uns dias de descanso físico.

    Não há pedidos a fazer, desejos a ver concretizados. Quem sabe possa depositar esta pequena cartinha aos pés da árvore, que ainda não viu, este ano, a luz do dia.

     Vai olhando pelos homens e, quando te distraíres, por mim.


lots of love,

Mark

6 de dezembro de 2014

Despojos.


    Outra manhã em branco. Vem-me à memória quando saltava para a cama dos pais e programávamos o dia de sábado, o que faríamos, com quem estaríamos. A que exposição me levariam. Em que restaurante almoçaríamos. Hoje, acordando, sou indiferente ao frio que sinto quando deixo que a aragem gélida irrompa pelo meu quarto, ainda que em finos trajes.
   Tomo o xarope. O corpo ressente-se da atmosfera desconfortável dos anfiteatros. Eventualmente, das aulas tardias.

    Cresci sabendo que necessitava de cuidados especiais. Uma cabeça humedecida pela chuva equivaleria a uma semana de remédios. Daí me protegerem; a mãe não consentir que saísse de casa sem os botões do casaco abotoados, sem calçado quente ou o café da manhã. Tampouco me deixava só, à porta, enquanto esperava pelo transporte do colégio.

     Deixo correr a água, à medida em que o vapor se adensa. E fraquejo. A páginas tantas, o som dos salpicos na banheira meio cheia acostuma o meu ouvido. No recorte da água, a silhueta dos meus sonhos, distorcida, comprimida pelas últimas gotas que se evadem da torneira mal fechada. Que se criam e anulam no infinito manto espesso dos minutos de um dia perdido.

2 de dezembro de 2014

Restauração.


      No primeiro de Dezembro, dia em que se assinala uma efeméride, o Dia Mundial de Luta Contra a SIDA, meritório e sem dúvida pertinente, ainda que em sociedades cada vez mais esclarecidas quanto ao VIH (ou HIV, como preferirem; adopto a norma lusófona), há um acontecimento histórico que teve lugar há alguns séculos e que teima em cair no esquecimento dos cidadãos (a política integracionista europeia não permite que se exaltem valores patrióticos, bem como a crise económica que levou à supressão do próprio feriado comemorativo). Refiro-me, claramente, à Restauração da Independência, que venho, desta feita, abordar.

      A conjura do º1 dia de Dezembro de 1640, não pensada ao acaso, milimetricamente teve lugar. Por volta das nove da manhã, um grupo de fidalgos, jovens, dirigiu-se ao Paço da Ribeira, o palácio real, e, conseguindo fintar a resistência montada por soldados castelhanos, irrompeu pelos salões, jogando Miguel de Vasconcelos, português, secretário de Estado, pela janela, e prendendo a duquesa de Mântua, Margarida de Saboia, representante do rei.
   O golpe de Estado visava, sobretudo, obter a plena independência do nosso reino, não obstante as promessas feitas pelo primeiro dos Habsburgos a reinar em Portugal, Filipe II de Espanha (I de Portugal), que, nas Cortes de Tomar em 1581, ao ser coroado, jurou respeitar as prerrogativas e peculiaridades deste pequeno reino da Europa ocidental. D. João IV seria aclamado Rei no mesmo dia pelos revoltosos, sendo proclamado posteriormente, dias depois.

    O descontentamento surgiu manifestamente a partir de 1612, já decorridas mais de três décadas de Monarquia Hispânica. A crise assentava na diminuição da população e na estagnação económica. A contestação política não foi logo tão evidente. Já em 1619, aquando da visita de Filipe II (III de Espanha), sempre adiada por se temer algum atentado contra a vida do monarca, as Cortes manifestavam insatisfação quanto à administração castelhana e à quebra dos compromissos firmados em 1581, nomeadamente a nomeação exclusiva de portugueses para os cargos do reino e ainda os benefícios da Igreja. Rapidamente os protestos desceram às ruas, com o povo queixando-se de carestia de pão e fomes. Em 1621, eclodiu o primeiro motim, em Barcelos. Em 1629, o povo do Porto, apoiado por nobres, ameaça linchar Francisco de Lucena, secretário de Estado vindo de Madrid com a incumbência de lançar mais um imposto... Durante a década de trinta do século XVII, a carga fiscal não parou de aumentar e, com ela, as sublevações, sendo que a mais grave teve lugar em 1637, meros três anos antes da Restauração, por motivos igualmente fiscais.


     Além do povo, a nobreza queixava-se das mobilizações para os palcos de guerra na Europa, vendo-se ainda atingida nos seus privilégios fiscais pelo duque de Olivares, valido espanhol, o preferido de Filipe III de Portugal. Por outro lado, pelo facto de não haver Corte em Lisboa, os nobres refugiavam-se nos seus domínios rurais, mantendo a nostalgia do esplendor cortesão da época em que havia um monarca português de ceptro na mão. Daí que muitos comecem a aderir à ideia de que era melhor sentar um português no trono.
      Da parte dos funcionários e letrados, também estes eram favoráveis ao duque de Bragança, muito devido ao imposto da meia-nata que pendeu sobre eles.

        A crise económica agudizava-se e agravava a situação já instável em Portugal. O império português, alvo de ataques de holandeses, regra geral, que mantinham um ódio de estimação aos castelhanos, caía, nessa zona remota do globo, mediante invasões às nossas praças a oriente, conquistadas uma a uma, o que alterou o eixo principal do nosso império de oriente para ocidente; as especiarias, em queda, deram lugar ao comércio açucareiro; proliferou uma actividade mercantil espalhada por diversos portos no Brasil, essencialmente, originando uma burguesia numerosa. Por sua vez, a Companhia de Jesus converteu-se, também ela, numa sociedade política e economicamente organizada, o que auspiciava novos ventos.

    A par destes factores, há que referir outros, talvez menos importantes, ou mais, dependendo esta valoração da consciência nacional de cada um. Houve alguns aspectos culturais que pesaram na hora da decisão. A língua portuguesa era, aos poucos, substituída pelo castelhano, optando artistas e escritores cada vez mais por se exprimirem nessa língua. A maior parte das obras impressas em Portugal era-o... em castelhano.

    Em progressivo e crescendo, cada vez mais vozes se erguiam contra esta dominação estrangeira, o subalternizar da nossa língua e cultura perante forças opressoras. Surgiu alguma literatura que reclamava a independência, o que levou, consequentemente, ao aumento da censura nos últimos anos da "união ibérica".

       Todo este conjunto de factores ajuda a explicar o golpe do 1 de Dezembro de 1640. Foi, primeiramente, um acto político, com um significado profundo de libertação do domínio castelhano. O reencontro com o passado e o desejo de retomar as velhas glórias. Algo, todavia, não deixa dúvidas: tratou-se de um projecto assumido por todos, do camponês ao mais alto representante de linhagem.