11 de maio de 2012

O meu refúgio.


 Procurei amparo nas altas paredes verticais do anfiteatro, escondendo o rosto do Sol. Os seus raios, contudo, acompanhando o decorrer o dia, procuravam por mim através das janelas, fechadas, que tornaram o espaço quente. Abri uma ao alto, deixando correr o ar sobre a minha pele. Lá fora, ouvi gritos exaltados, num som que se repercutia na minha mente, como um estertor de guerra, com batalhas, em que os soldados seriam tantos em número quanto as pequenas partículas de matéria e ácaros que desvendava sob os feixes de luz que inundavam o auditório.

 Em pouco tempo, começaram a entrar, preenchendo os lugares dianteiros, deixando os cimeiros vazios. A proporção, olhando para todo o espaço, seria de mil para um, encontrando estranhas semelhanças com um barco que reúne, na proa ou na popa, todos os tripulantes. Não deixava de ser uma espécie de salvação o que todos queriam. Mais uma disciplina feita.

 Nas bancadas, de madeira envelhecida, agora aclarada pela luz que tornava o baço em reluzente, códigos a azul salpicados por estrelas amarelas, enfileirados, tornavam o inferno de calor numa concretização falseada de céu. Dei por mim a perguntar por que motivo as estrelas do firmamento caíram e vieram parar justamente ao velho auditório salazarista. Talvez porque a vã esperança tenha terminado e, num ditame profético, auspiciem o fim do fundamento de toda aquela tarde passada ali.

 Nas escadas laterais, onde passava, subindo e descendo, uma professora assistente, estive eu, deambulando de resumos nas mãos, ansiando pelo refúgio que não encontrei. Agora, a caneta falhara. O Sol não mais voltaria àquele lugar, naquele dia. Encaminhou-se para longe, onde as horas são mais leves e a atmosfera menos densa.


11 comentários:

  1. EU pensava que ia ser um texto que ias dizer que estavas bem (devido ao título),mas depois disseste: "Ansiando pelo refúgio que não encontrei".
    Passa-se algo?
    Se calhar sou eu a interpretar mal o texto.
    Mas fico preocupada se não estás bem*

    *p.s-sim,sei que é esquisito porque não me conheces,mas sim,fico preocupada com as pessoas!

    Beijinho*

    ResponderEliminar
  2. Sonhadora: Obrigado pela tua preocupação, mas eu estou bem. Foram reflexões sobre uma tarde, o que senti, o que vivi e o que gostaria de ter vivido em seu lugar. ^^

    Beijinho. *

    ResponderEliminar
  3. Adoro ler este canto (:

    Abraço amigo

    ResponderEliminar
  4. Obrigado, Francisco. :)

    Abraço! :3

    ResponderEliminar
  5. poesia em prosa.
    quente, muito quente foi o dia de ontem...
    bjs.

    ResponderEliminar
  6. Parecias algo deprimido quando escreveste este belo texto...está tudo bem contigo?

    Já sabes que se precisares de uma mão amiga, eu tenho duas! ;)

    Abraço grande :3

    ResponderEliminar
  7. Margarida: O dia de ontem e o de hoje. Para piorar, na minha faculdade ainda não descobriram um aparelho de seu nome "ar-condicionado". :)

    Beijinho! *

    Hórus: Sim, estou bem. Obrigado. :)

    Abraço! :333

    ResponderEliminar
  8. A chuva, no post anterior...
    O sol, neste...
    E as vetustas salas por várias vezes referidas em textos teus...
    Mas sempre presente a poesia das palavras...
    Um grande abraço cheio de carinho <3

    ResponderEliminar
  9. Obrigado, Pedro. (:

    Abraço, igualmente sentido! <3

    ResponderEliminar
  10. Reflexões...
    É sempre positivo que as haja.

    ResponderEliminar