8 de março de 2012

Tigre de Papel.


 Peço a força que por vezes me falta. Sei que provavelmente encontraria essa força em ti. Desde cedo me fiz acompanhar por pessoas com mais vitalidade do que eu, imbuído numa vontade de me tornar como elas.
 É bom ver-te sair da sala para comprar uma esferográfica azul; a desculpa encontrada por mim, de que estão esgotadas as minhas cores preferidas, não é convincente. Digamos que me tornei num ser estático.
 Também na biblioteca, quando me sinto diminuto no meio das estantes metodicamente organizadas de livros, observo a tua dedicação ao procurares por cada tema, cada título, cada autor, no meio de um emaranhado de cores velhas e esbatidas, sintomas de um uso compulsivo. É quase perceptível o som ofegante da tua respiração do outro lado. O barulho dos teus passos, apressados e largos, ecoa por entre fileiras de professores e alunos sentados a estudar. Não resisti às memórias de quando sussurrámos baixinho, no ano passado, até sermos encarados por um funcionário rezingão. Na altura, tive vontade de fugir.
 Contudo, essa força desaparece quando, por exemplo, hesitas em comer um folhado de queijo e fiambre descontraidamente. Talvez receies deixar cair migalhas para cima mesa; pelo menos, ficas bastante constrangido quando lanchamos algo juntos.
 Daí sentir-te como um tigre de papel. O que ainda não aprendeste é que nem sempre temos de ser fortes.


4 comentários:

  1. Adoro sua escrita, é meio como em um filme. Dá pra visualizar em cada frase uma imagem que corresponde '-'
    Em todos nós existe um tigre de papel..

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  2. É verdade fofinho, 2 anos :) e é sempre um prazer ler-te adoro as tuas descrições, tudo ^^

    Um beijinho

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  3. Eu acho que temos que ser fortes sempre, mas é impossível sê-lo, e assim sendo, não devemos ter medo ou vergonha de o mostrar.
    Afinal, é tão belo ver um homem chorar...

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  4. Essa é uma das lições mais difíceis de aprender...

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