30 de setembro de 2010

Um Simpático Velhinho



Ultimamente tenho ido lanchar a uma pastelaria simpática perto de casa. É um sítio calmo, tranquilo e bem frequentado. Além do mais, dá para estudar e ler um pouco. Nos últimos tempos, reparei que um velhinho vagueia pela pastelaria todos os dias, uma vez que o encontro todos os dias. Ora se levanta, ora se senta, ora dá a volta à pastelaria, ora sai, ora torna a entrar... Por vezes, reparo que se senta e coloca a cabeça sobre os braços, cerrando os olhos já por si tristes. Um destes dias, tomei coragem e perguntei à senhora da pastelaria quem era o velhinho. Disse-me que era o seu padrasto e, devido ao facto da sua mãe, também idosa, ter sido internada, ficou a tomar conta dele. Dá-lhe as refeições e pouco mais.
Porém, o que me suscitou mais a atenção foi constatar que ninguém se importa verdadeiramente com o velhinho. Há atitudes que revelam imenso sobre as pessoas. A senhora quando tira uns minutos sem movimento para lanchar, senta-se numa mesa no lado oposto ao lugar onde está o velhinho. Nunca a vi dirigir-lhe uma palavra, perguntar-lhe se queria alguma coisa, prestar-lhe algum auxílio... O mesmo se aplica ao marido dela. Anda por ali, bebe e bebe, senta-se com amigos e nem tem a dignidade de convidar o pobre do velhinho para se sentar na sua mesa. Tenho muita pena dele.
Hoje foi o limite. Vi o velhinho a chorar disfarçadamente na mesa, ocultando as lágrimas com as mãos enrugadas e cansadas. Fiquei tão revoltado!... Pedi o meu chá, pedi-lhe licença e sentei-me na mesa do velhinho. A mulher e o marido ficaram perplexos, para mais quando lhes lancei um olhar de reprovação. Reparei que o velhinho ficou feliz por falar com alguém. Perguntei-lhe o nome, falei-lhe da faculdade, até de futebol (tentei...) falei porque soube que era um tema que o agradava. Foi uma hora que não fez diferença para mim, mas que certamente fez toda a diferença para ele. Quando, por fim, disse-lhe que me ia embora, os seus olhos ficaram tristes, quase adivinhando a solidão que o esperaria de novo. Prometi-lhe voltar amanhã e lá estarei de certeza.
Os idosos não são um pedaço de lixo, um pedaço de algo que não serve para nada. São pessoas que viveram as suas vidas e que chegaram a uma idade que lhes deveria conferir algum respeito. Uma sociedade que não respeita os seus idosos não merece ser respeitada.
Eles já lá chegaram. Nós, se tivermos saúde, também chegaremos. Aquilo que eles sofrem, se tudo continuar assim, é aquilo que nós sofreremos.

29 de setembro de 2010

És "moche"?



O quotidiano dá-nos provas de que o mundo em que vivemos já não é o mesmo. Antigamente (e que interessante que é uma pessoa da minha idade usar este advérbio...), as pessoas pautavam as suas vidas por interesses concretos, palpáveis e úteis. As conversas, os diálogos que se estabeleciam tinham um outro sabor. Tudo era bem mais rico em sabedoria, em empatia e naquele sentimento de reciprocidade de interesses e vontades. Quando se conhecia alguém, e depois das apresentações feitas, era natural perguntar a idade, os livros preferidos, as músicas favoritas e quem sabe a cor predilecta. Depois, surgia o convite para o jantar ou até mesmo para o simples cafezinho (sem acento grave no "e", uma vez que este foi abolido no Acordo entre o Brasil e Portugal em 1971).
-"És moche?"
Eis a pergunta mais corrente, em Portugal, num primeiro encontro. E desengane-se quem pensa que está circunscrito às camadas mais jovens. É um vírus que se alastrou por gerações e gerações contaminadas pelas deturpações dos novos tempos (algo entre a queda do Império e a Crise Económica). Pronto, não é bem assim, há sempre quem pergunte de outra forma.
-"Não és moche? Ah, és extravaganza? Também não? Ah, já sei, és Tag!"
Já está, já está! Não se cai no seguidismo e conseguimos quatro frases fantásticas e originais. Vejamos, é extremamente importante ter um tarifário igual para uma futura amizade. É condição essencial. Ah, pouco importa se és mau ou bom, altruísta ou egoísta, um padre ou um criminoso. Nem interessa o nome. Interessa o tarifário. És moche? Gosto bué de ti. Não és? Opá, fica p'ra outra, 'tá?
E assim gira o nosso mundinho insignificante, em torno de uma estrela insignificante, que faz parte de uma galáxia não menos insignificante, nesse todo que é o Universo. Valha-nos Deus que tem as três redes!...






Sim, sim, Mark, fala, fala, mas também tens moche e extravaganza... Parvo! Sê diferente: começa a usar sinais de fumo!!!

27 de setembro de 2010

Primeiros Dias



Hoje completou uma semana desde o início das aulas. Ando numa fase de total abstracção. Por um lado, sinto-me excitado com esta etapa; pelo outro, é algo novo para mim. Na faculdade é tudo muito diferente do Secundário: não temos quem nos acompanhe de forma constante, não conhecemos muitas pessoas (por enquanto), os professores (principalmente os assistentes) não têm paciência nem aquela cordialidade, etc. Sinto-me como se estivesse a navegar em alto-mar num barco cujo leme gira de forma autónoma. Em primeiro lugar, somos imensos; em segundo lugar, não sabemos que livros comprar, como agir e o que fazer. Está a ser um período de adaptação prolongado. Bom, há quem esteja mesmo mal, a quilómetros e quilómetros de casa, muitas vezes com um oceano a separar as margens, longe das suas famílias e amigos e a viver em apartamentos mistos. Já conheci inúmeros casos. Nesse aspecto, sou um privilegiado. A mãe leva-me de carro todos os dias, uma vez que fica na direcção que ela pretende tomar. Evito levar o carro e não ando carregado de livros e cadernos, só o espaço entre o carro e a sala de aulas ou o anfiteatro. Em relação às aulas: estou a gostar, de um modo geral. É um outro ritmo. Não há textos no quadro nem nada do género. Falam, falam e falam. Se nós quisermos, tiramos apontamentos; se não quisermos, problema o nosso. Resta acrescentar que falam tão rápido que mal dá para acompanhar o raciocínio e ir escrevendo.
Quanto a amizades: já fiz algumas. Felizmente, sou muito sociável, apesar de não dar muita confiança às pessoas. Já existem os típicos grupinhos... Até já temos rótulos! Vim a saber que todos dizem que nós somos os «queques 1º grau», devido ao facto de existirem, segundo alguns, muitos «tios». Quase todos, digo eu... Então, dividem-nos em subgrupos.  As pessoas são péssimas. Só porque as meninas têm um ar supé e nós (eu e outro) somos diferentes na postura e na maneira de agirmos. Uma das meninas vive perto da avó, o que é óptimo porque proporcionará tardes de estudo com aqueles lanches maravilhosos. :) Já combinámos ir comprar os livros a uma livraria no centro. Detesto a livraria da faculdade. Tem imensa gente e muito barulho... Correm e correm pelos descontos! Ainda se fosse um desconto visível...
Resumindo: tudo tem altos e baixos. Mas, no geral, está a ser o máximo. São uns anos, é verdade, mas nada sucede em pouco tempo, principalmente um curso superior.


Ainda não fui a uma única "festa". Não tenho a mínima paciência para festas universitárias. Eu hein?!

26 de setembro de 2010

Constitucionalismo



Praticamente todos os países do mundo têm como Lei Máxima uma Constituição. A Constituição serve, a priori, como um garante dos direitos fundamentais do cidadão e do bom funcionamento das instituições estatais. A Constituição é entendida como a «a lei das leis» e todas as leis, normas e códigos jurídicos devem subordinar-se ao conteúdo da mesma. Contudo, alguns países prescindiram de uma Constituição, entre os quais o Reino Unido. A democracia britânica assenta, fundamentalmente, no Parlamento. Este é o verdadeiro baluarte da democracia. A ele compete a aprovação dos decretos parlamentares. Já no caso português, existe uma Constituição que estabelece deveres e direitos, assim como as garantias dos cidadãos e o bom funcionamento das instituições democráticas. É a actual Constituição de 1976.
Como surgiu a Constituição como lei máxima? Uma grande maioria de politólogos defende que a tradição constitucionalista nasceu com a Revolução Francesa, em 1789. De facto, a Constituição de 1791 foi o primeiro garante da igualdade entre os homens no mundo moderno. Estabeleceu os direitos dos cidadãos (a célebre trilogia Liberté, Egalité, Fraternité), abolindo o feudalismo e todas as estruturas medievais. É reconhecida como a mãe de todos os textos constitucionais por ter inspirado as Constituições que lhe seguiram. Porém, a tradição constitucionalista vem de longe, do século XIII, com a Magna Carta britânica. Sem qualquer dúvida, a Magna Carta foi o primeiro documento que inspirou o constitucionalismo que só despoletaria séculos mais tarde. Limitou o poder real, travando desde logo o Absolutismo Régio (que em Inglaterra nunca gozou de grande prestígio), garantiu a liberdade pessoal e de circulação, bem como o direito de acesso à justiça e à proporcionalidade entre crimes e penas.
O poder dos textos constitucionais de cada nação é discutível. A subordinação ao jus cogens é uma realidade e o melhor exemplo será a falhada Constituição Europeia ou a Declaração Universal dos Direitos do Homem, considerada a verdadeira lei, embora desrespeitada no seu âmago por alguns países.
O Constitucionalismo, no fundo, comunga de objectivos comuns: justiça, segurança e liberdade, existindo ao serviço da pessoa humana. É uma concepção pessoal e meramente personalista, no entanto, guarda em si os nossos deveres e direitos, tantas vezes esquecidos nos dias que correm.

24 de setembro de 2010

Guardei o Teu Olhar



Conheci-te há poucos dias e confesso que anseio por segunda para voltar a ver-te. Naquele primeiro dia, eu parecia um guardião da integridade física e moral dos outros e reconheço que te achei o pior dos seres humanos. Só surgiam na minha mente ideias negativas de ti. Uma pessoa rude, altiva e básica. Só assim poderias gostar daquele espectáculo deprimente. Porém, com o passar dos dias, reparei que era uma fachada momentânea; afinal, não eras assim. No dia seguinte ao primeiro encontro, vieste ter comigo e fizeste-me uma pergunta forçada. Quase que te colocavas à minha frente de forma a receberes uns «Bons dias!». Fingia que não te via; não queria acreditar que aquilo que supunha era verdade.
Tudo mudou no dia em que comi um bolo no bar. Sentaste-te bem na minha frente, fitando-me fixamente. Chegaste a incomodar-me com tamanha atenção. Vi a forma com que olhavas para mim, desvendei o desejo no teu olhar, li cada linha decifrável da tua boca, das tuas mãos e de todo o teu corpo. O pior de tudo é que, contrariamente ao que é hábito acontecer, eu também gostei de ti. Afinal, não me senti incomodado. Pelo contrário, quis que me tomasses nos teus braços e me beijasses loucamente.
Não és o meu tipo, nada tens que preencha o meu estereótipo de «ideal». Todavia, és tu.
Guardei em mim o desejo que demonstras. Estarei atento aos teus passos, às tuas investidas e não hesitarei em aceitar a ajuda que tão prontamente me ofereceste.
O destino dirá se os teus lábios algum dia alcançarão os meus.

23 de setembro de 2010

Formspring


A aplicação Formspring já está disponível. Podem encontrá-la no vosso lado esquerdo do ecrã. Decidi aderir a esta aplicação de forma a estar mais perto de quem me lê. Terei todo o gosto em responder às vossas perguntas, se souber responder, claro. :) Espero que esta aplicação tenha, essencialmente, um lado mais didáctico. Podem fazer perguntas sobre História (área onde me sinto à vontade) e obter alguns esclarecimentos. Também podem fazer perguntas sobre outros assuntos, pessoais, etc. Enfim, está ao dispor de quem venha por bem. Como é evidente, não responderei a perguntas que considere inapropriadas, seja qual for o conteúdo. Podem perguntar anonimamente. É uma vantagem. :)

22 de setembro de 2010

Henry Cavill



Como todos sabem, eu gosto imenso de História. Por isso, gosto especialmente da série The Tudors, apesar de alguns dos factos retratados não corresponderem à realidade. É uma série ficcional, primariamente verídica, mas com uma componente romancista. Todavia, é muito boa, e pode ajudar um pouco a perceber os meandros da política europeia do século XVI.
Os meus actores favoritos são o Jonathan Rhys Meyers, a Sarah Bolger e o Henry Cavill, com especial destaque para este último. Considero-o fantástico. ;)

20 de setembro de 2010

Anti-Praxes



Hoje foi o dia das praxes na minha faculdade. Como escrevi anteriormente, eu sou totalmente contra essa tradição que considero obsoleta e arcaica. Mas, desafiado por uma amiga que vai para o mesmo curso que eu, decidi ir para assistir a uma (uma vez que nunca tinha visto) e, se quisesse, talvez participar. Ela disse-me que tinha ouvido dizer que era tudo muito soft...
Pois bem, aqui vão as minhas considerações sobre o «soft» (direito que me assiste no meu blogue): vi um ritual de humilhações consecutivas, em que «caloiros» eram sistematicamente abusados pelos «veteranos» (da falta de educação e respeito...). Obrigados a fazerem coisas que não queriam, coajidos com ameaças de idas a «Tribunal de Praxes» (ridículo!). Ao obterem o diploma que certifica a aprovação nas praxes, ainda são obrigados a assistir a uma cerimónia dispensável, com discursos lidos por «veteranos» que mal sabem ler!... Entretanto, há um Corredor da Morte (figura sinistra), em que «caloiros» são sujeitos a perguntas indiscretas e a sevícias que me indignaram, nomeadamente o acto de beber uma bebida duvidosa por uma concha de sopa que passou por dezenas e dezenas de bocas (imaginem-se as doenças). No meio disto tudo, o mais levezinho foram as pinturas, farinhas no cabelo, tintas, rebolarem no chão, na terra molhada, etc, etc, etc.
Numa das cerimónias, os «caloiros» foram obrigados a jurar de mão no peito serem - e passo a citar - «bestas, seres inferiores», etc (não decorei mais).
É isto o espírito de fraternidade, companheirismo e altruísmo?
Claro que eu, indagado por uma «veterana», assinei o manifesto anti-praxes. Fui a única pessoa em todas aquelas dezenas que por ali passaram. Alguma vez deixaria que me humilhassem de forma cruel e desumana? Era o que faltava! Ainda me disseram que desta forma iria ser olhado com desdém... Ai, estou tão preocupado! Não queriam que eu assistisse, devido ao facto de não participar. Mas eu defendi bem a minha posição. Que raio de «veterana», não teve conversa para mim!... Pude observar. Queria ver ao que as pessoas se sujeitam. Olha eu a rebolar no chão frio, levar com balões d'água, cheirar terra molhada... Para ficar doente, provavelmente, porque sou asmático desde bebé.
A minha amiga saiu de lá enjoada, a tossir e toda suja. Acabou por me dar razão.
Para concluir: eu sou contra as praxes, creio que já deu para entender. Respeito quem faz e quem gosta de participar, mas vi - vi - pessoas a quererem desistir e a serem literalmente ameaçadas por «veteranos», o que as levava a continuar. Também vi pessoas a tomarem atitudes contrárias à sua consciência à sua dignidade pessoal (uma ambientalista foi obrigada a cortar plantas, mesmo dizendo que não queria!!!).
Isto é horrível. Não há nada que pague a nossa honra, a nossa liberdade e o nosso direito à não participação num espectáculo degradante, imoral e inquisitorial.

19 de setembro de 2010

A Identidade


Hoje fui fazer umas compras, nomeadamente roupa. Gosto de iniciar a rentrée com artigos novos. Digamos que é um hábito que adquiri há alguns anos. Comprei umas coisinhas interessantes. Um casaco fantástico, cinzento, com uns acabamentos que lhe dão um ar requintado. Depois, comprei aqueles artigos básicos: camisas, gravatas, calças, camisolas, um perfume com um aroma a Outono e mais uns acessórios. Fui com a Só, uma amiga dela e o Martim. Percorremos imensos lugares. Desde o Colombo (que mania a Só tem de gostar daquilo!), ao Amoreiras, passando pelo El Corte Inglés, foi uma tarde que deu para todos os gostos e feitios.
No meio de tanta compra, resolvemos comer alguma coisa. Escolhemos o salão do El Corte Inglés. Falámos de diversos assuntos, com especial destaque na minha entrada na faculdade. Conversa puxa conversa, e a amiga da Só falou-me das imensas festas que, na opinião dela, tenho pela frente. Disse-lhe a verdade: tenciono ir a algumas, embora não me suscitem muito interesse, até porque as festas universitárias têm imenso álcool e eu sou um abstémio convicto. Para além disso, gosto de ir aos meus próprios eventos e àqueles que são organizados por pessoas com as quais tenho intimidade. Quando a menina me sai com esta pérola: «Não bebes álcool? Vão achar-te muito estranho! Tens de beber para pertenceres ao grupo, não te esqueças, 'tá? Eu já passei por isso...».
Vê-se logo que não me conhece minimamente. Desde quando eu faço o que todos fazem só porque é cool? Detesto essas pessoas que não têm identidade própria. Abdicam da sua forma de ser e estar apenas para pertencerem a um todo igual, uma mancha em que ninguém se distingue de ninguém. Nós somos diferentes e é nessa diferença que consiste a diversidade humana.
Nunca por nunca gostei de pertencer a esse todo homogéneo e igual. Aliás, sempre rumei contra a maré e, apesar de não ser nem motivo de orgulho, nem motivo de vergonha, faz parte de mim. Sou assim desde que me conheço. Se ela quer ser igual, força. Não critico mas, por favor, não dá para mim. E até nisso fui diferente. Disse à criatura o que pensava na cara dela. Não deve ter gostado muito de ouvir. Paciência. Até a vulgaridade tem limites. Imagino... Deve beber o que todos bebem, vestir o que todos vestem, falar como todos falam, ir para a cama com os rapazes com quem todas vão... Que pessoa tão interessante!...
Isto não são pessoas: são fotocópias!

17 de setembro de 2010

Jaime I de Inglaterra



Se em Portugal residem dúvidas em relação à suposta homossexualidade dos reis D. Sebastião e D. Afonso VI (sendo que do último existem provas, a meu ver, inequívocas), o mesmo não sucede em Inglaterra, onde é por todos conhecida a homossexualidade de um dos seus monarcas, o rei Jaime I.
Jaime I era filho de Maria Stuart, rainha da Escócia, sucedendo à sua mãe na coroa escocesa. Por sua vez, por morte de Isabel I, rainha de Inglaterra, que não deixou descendentes, Jaime VI da Escócia herdou também o trono de Inglaterra, unindo este último à Escócia. Ambos os reinos eram independentes à epoca, apesar da união na pessoa do mesmo monarca. Ao subir ao trono, e com a extinção da Casa Tudor, a Casa Stuart começou a reinar em Inglaterra.
Desde muito cedo, Jaime sempre demonstrou interesse por pessoas do sexo masculino. Apesar disso, um monarca tinhas as suas responsabilidades e a mais importante de todas era assegurar descendência, preferivelmente um herdeiro varão para assumir o trono. Dessa forma, Jaime I casou com Ana da Dinamarca. Ao todo tiveram sete filhos, incluindo o futuro monarca Carlos I. Todavia, isso não o impediu de ter as suas preferências. Era um costume real ter favoritas, as chamadas concubinas. Este rei não foi excepção, não obstante as suas preferências terem sido outras. Entre vários favoritos, houve um que marcou o seu nome na História de Inglaterra. Era ele George Villiers, mais tarde Duque de Buckingham. George era conhecido por ser muito elegante e atraente. É evidente que o rei ficou encantado com os dotes de George e adoptou-o como favorito. Há registos de uma declaração pública do rei, em que o mesmo diz que: « Se Cristo teve o seu João, eu tenho o meu George. » O rei favoreceu muito George, atribuindo-lhe cargos e honras, muitíssimos títulos de nobreza e o lugar de Cavaleiro de Câmara do rei, ou seja, privava com este na mais profunda intimidade... O amor do rei foi correspondido e ambos amaram-se loucamente.
Jaime I era um monarca bastante culto, de uma erudição invejável, porém, tinha um comportamento irascível. Era demasiado propenso à vaidade e ao orgulho. Morreu, de várias complicações de sáude, em 1625. George Villiers não tardou em acompanhá-lo, em 1628.
Jaime I de Inglaterra não é dos monarcas ingleses mais célebres, mas vale a pena atentar um pouco na sua vida e nos factos que a envolvem. Fundou uma dinastia, preparou parte do quadro político que hoje vemos no Reino Unido (unindo a Escócia à Inglaterra) e herdou um reino glorioso (período isabelino) que lhe coube a função de manter. No meio de tudo, e como faits divers, é o primeiro monarca cujos registos demonstram preferências manifestas pelo sexo masculino.

15 de setembro de 2010

Tardes



Vejo a cor amarela do céu e só o teu rosto surge no meu pensamento. Mal consigo esperar para te ver novamente. Os teus olhos fixaram-se nos meus e posso dizer que antes dos tempos acabarem ainda serei teu.


14 de setembro de 2010

Longe da vista, perto do coração...



Nos tempos antigos, em que damas e donzelas aguardavam a chegada dos seus maridos algures em trabalhos longínquos ou na guerra, surgiu a ideia de que o amor necessita de uma presença física constante. Necessitará? O amor e a paixão são sentimentos que se completam, contudo, não são iguais. A paixão necessita do toque, da água fresca para apagar o fogo que queima e não se vê, do contacto entre os corpos, do desejo que traz o prazer. O amor, por sua vez, transcende essas etapas irrisórias aos olhos de um sentimento tão nobre. O amor consegue vencer obstáculos, ultrapassar desafios, resistir à árdua tarefa de ganhar a batalha ao tempo. O amor é como uma semente que plantamos no nosso ser. É regada pela pessoa que gostamos, pelo sentimento que nos demonstra. Germina, por fim, e dá lugar a uma bela árvore que resiste incólume a ventos, tempestades e marés. A distância tem o efeito de adubo: aguça e fortalece a raiz do amor, tornando-o mais forte, robusto a todas as intempéries que o atormentam. O amor toma semelhanças ao cacto, armazenando água, uma vez que não tem acesso a ela sempre que assim o deseja. Porventura, não vive sem aquela brisa, mesmo que distante, mas que traz o oxigénio necessário à sua sobrevivência. Mais uma vez, é como uma árvore antiga, velha, mas cujas raízes desafiam a dureza do aço mais resistente. O amor a tudo sobrevive, até mesmo à morte. É invencível, imortal e cego. Só tem de ser verdadeiro. Parece simples, todavia, é o mais difícil. 
Ainda existem árvores destas, o mundo ainda não está perdido.

12 de setembro de 2010

No Pátio À Minha Espera



Hoje acordei cedo, cedo o suficiente para ver a luz límpida de um amanhecer sereno e quente. Gosto de observar o Sol que nasce por entre as nuvens no final do horizonte. Gosto, simultaneamente, de sentir a brisa fresca da manhã que contrasta com os raios ainda fracos mas suficientemente quentes. Relembra-me aqueles dias a serem apagados pelo tempo, quisera a minha memória um feito desses. Ainda parece que te vejo no cimo do pátio, concretamente naquele campinho onde jogavam futebol. Costumavas esperar por mim quando fugia da mãe para estar contigo. Cada desculpa inventada, quantos aniversários de fantasia e festas que não existiam!... Mais tarde, encontrei-te lá, talvez pelo mesmo motivo que me levava até àquele espaço: estarmos perto como acontecia anteriormente. Quantas e quantas vezes, zangado pela tua indecisão, não me refugiei no pátio do campo de futebol... Porém, as memórias guardadas bem cá no fundo remetem-me a outras situações. Aos dias em que aguardavas serenamente. O meu coração batia a mil à hora, sedento pelo reencontro contigo. Não era cansaço, não, era amor. O meu esplendor era maior do que o do Sol. Via-te assim, calmo, sentado à minha espera. A mesma determinação nos olhos verdes, a mesma força nos braços brancos e pálidos, a mesma energia no cabelo louro com gel. Consigo descrever cada pormenor do teu corpo, da tua roupa, dos teus ténis, de ti... Desvendo cada reacção, reconheço o significado de cada olhar, de cada palavra, de cada expressão do teu rosto. Conheço-te como a mim. A tua presença inundava o meu espírito de alegria. Uma alegria em ti.
Voltei algumas vezes sabendo que nada iria encontrar à chegada. Não estavas lá e eu, no fundo, também não estava. Fui à procura de ti e de mim. Agora já sem mentiras inocentes e receios infundados. É-me difícil a permanência naquele lugar. O preço da ousadia é demasiado alto. Queria-te ali de novo, queria um recuo no tempo. Fiz tudo bem, o que correu mal?
Volta a tomar-me nos teus braços, volta a pegar-me ao colo a brincar, volta a beijar-me suavemente como tão bem fazias. Faz com que o tempo pare novamente sob a luz solar que testemunhava os nossos momentos naquele pátio nosso.

11 de setembro de 2010

O Dia Fatídico



Quem não se recorda do dia 11 de Setembro de 2001? Em princípio, seria mais um dia normal, banal, um mero dia ameno de final de Verão. Todavia, seria um dia com consequências imediatas na história do (na altura) recente século XXI.
Eu era uma simples criança aquando do 11 de Setembro. A data em si, 11 de Setembro, ganhou um simbolismo frio e mórbido, como se de um vento destruidor se tratasse. Era o primeiro dia de aulas, mas recordo-me de que faltei, aliás, como era hábito nos primeiros dias de aulas de todos os anos lectivos. Saí com a mãe e o pai para almoçar num restaurante perto de casa. À saída, o primeiro avião já tinha embatido numa das Twin Towers. Quando cheguei ao dito restaurante, no preciso momento em que olhei para a t.v, o segundo avião acabara de embater no outro arranha-céus. Sempre tive uma extraordinária memória. Recordo-me da roupa que trazia, do lugar em que me sentei no restaurante, enfim, dos ínfimos pormenores. Recordo-me, como é evidente, devido ao acontecimento que marcou o dia. De outra forma, o 11 de Setembro de 2001 passar-me-ia totalmente despercebido, para mais atendendo à tenra idade.
Este dia marcou o mundo de forma trágica. O número exorbitante de perdas humanas, o terror em directo, os suicídios de pessoas que se atiraram das janelas das torres, a destruição do emblemático complexo de edifícios do World Trade Center, o ataque ao coração dos E.U.A, tiveram repercussões imediatas. Com o fim da Guerra-Fria, o mundo suspirou de alívio. Porém, a partir do 11 de Setembro, surgiu uma nova guerra: a guerra contra o terrorismo, expressão até então desconhecida pelas massas. A Guerra do Afeganistão, no final de 2001, foi a primeira consequência. Osama Bin-Laden, um líder islâmico pouco conhecido, encheu manchetes de jornais e abriu noticiários por todo o mundo. O ambiente estava propício para a invasão do Iraque (2003) e a manutenção dos contigentes militares. O mundo tremeu - tremeu - mas não ruiu. Os fundamentalismos de ambas as partes ganharam expressão. De um lado, o fundamentalismo do Presidente Bush; do outro, o fundamentalismo anti-ocidente, concretamente anti-Estados Unidos / Reino Unido e Aliados. Há quem diga que a História Contemporânea ganhou um outro significado. Eu corroboro e acrescento: um significado mais negativo.
Sem qualquer sombra de dúvida, o mundo está mais inseguro.

9 de setembro de 2010

Marilyn Monroe - I Wanna Be Loved By You

      

Como escrevi num post recente, Marilyn Monroe é um dos ícones que mais admiro, a par de Mariah Carey (ver aqui). Acho-a uma pessoa fantástica, com imenso glamour e atitude. É isso que distingue as pessoas vulgares das eternas. Aquilo que fazem e que, porventura, é amado e odiado. As pessoas globais e interessantes nunca são unânimes. Despertam sempre variados sentimentos. Faz parte. É o que aconteceu com a Marilyn, hoje um símbolo dos E.U.A.
Esta música tem inspirado vários momentos da minha vida. É eterna, tanto pelo seu mediatismo como pela sua graciosidade.

8 de setembro de 2010

Pela Avenida Há Vida...



O pai voltou ontem de viagem. Desde o divórcio, em 2006, o pai afastou-se um pouco de mim. A sua vida profissional agitada, o facto de viver longe e, até recentemente, a má relação com a mãe, levaram-no a tomar um outro rumo. O pai sempre foi um grande amigo. É um dos homens mais compreensivos que conheço. Porém, com a separação, houve um afastamento gradual. Estamos menos tempo juntos, saímos poucas vezes e até algumas datas importantes têm passado em branco.
Ontem, no entanto, recebi um convite para lanchar hoje de tarde. Fiquei feliz porque há imenso tempo que não lanchava com o pai. Foi buscar-me a casa por volta das quatro da tarde e levou-me a uma pastelaria no centro da cidade. Notei que ele estava constrangido. Bebia a sua cerveja sem álcool de forma tensa. A xícara do chá também balançava na minha mão nervosa. De forma imprevista, começámos a falar dos estudos, das férias, dos projectos para o futuro, enfim, de tudo. A pastelaria era ampla e fresca. Parecia que o tempo só passava do lado de fora. A luz, opaca devido à densidade e às características do vidro, entrava subtilmente por entre as cadeiras e as mesas de madeira, iluminando o vidro do balcão de forma resplandecente. Dei por mim a mexer bastante na minha franja do cabelo, atitude que revela sem hesitações o meu estado emocional. 
Depois de terminado o lanche, passeámos pela Avenida da Liberdade. Eu adoro esta zona da cidade, contrariamente a muitos que veneram a Baixa ou a zona mais oriental. Falámos enquanto descíamos em direcção aos Restauradores. Foi um momento mágico para mim. Vimos um casal estrangeiro, gay, a descer a avenida. Também passou um rapaz gay que quase embatia num banco de tanto olhar para mim. O pai não notou. Vimos um casal, ela portuguesa, ele africano, com um bebé mulato. Um velhinho a dormir num banco de jardim. Polícias a fiscalizarem a avenida, trabalhadores que restauram um prédio... Lisboa é diferente por ser assim tão global. Ainda tivemos tempo de ir ao antigo Parque Mayer, outrora novo e concorrido, hoje abandonado e praticamente em ruínas. Como tudo o que é antigo e tem história me fascina, o mesmo sucedeu com o Parque Mayer. De regresso, subimos novamente a avenida.
Fizemos o caminho de volta até à minha casa. Demos um beijo de despedida e o pai fez questão de me ver entrar. Preferi vê-lo partir no carro.
Tenho saudades de quando ele estava com a mãe. Dos momentos felizes que vivemos. Contudo, compreendo que a vida tomou um rumo oposto ao pretendido. Podemos ser felizes como dantes, com as devidas alterações.
São momentos como este que marcam para sempre a nossa memória.

7 de setembro de 2010

Processo Casa Pia



Prometi a mim mesmo que não iria abordar no blogue o Processo Casa Pia, porque acho que está devidamente explorado na blogosfera, nos noticiários televisivos, nos jornais e na internet, de um modo geral. No entanto, foi-me impossível escapar a este mediatismo e, naturalmente, também tenho uma opinião formada.
Existem vítimas. Isso é claro. Vários jovens, durante anos e anos, foram sistematicamente abusados por homens, anónimos e conhecidos, menos poderosos e mais poderosos. Não conheço o processo, por isso, não estou habilitado para falar em concreto de factos, apesar dos mesmos terem sido divulgados por vários órgãos de Comunicação Social. Aliás, o processo passou-me um pouco ao lado, até porque era pequeno quando o grande escândalo rebentou (2002).
Já vi o site de Carlos Cruz e noto algumas incongruências por parte daqueles jovens. Estarão baralhados? Será que o factor espaço temporal teve consequências ao nível das suas memórias?
Quem dirá a verdade?
Quando olho para os rostos dos arguidos, nenhum sentimento me causam, exceptuando Carlos Cruz. Eu não vejo naquele homem uma má pessoa, um abusador de menores. Lembro-me dos seus programas, das birras com a mãe porque gostava de ver as Noites Marcianas (que passava bastante tarde) e no dia seguinte tinha de acordar cedo para ir para o colégio, do seu inegável profissionalismo... Gostava dele. E, ao olhar para os seus olhos, vejo um homem cansado, esgotado e triste. Não me parece que seja culpado. Claro que é apenas o que sinto, o que poderá corresponder, ou não, à verdade. O tempo e a justiça o dirão. Não sou indiferente a esta primeira condenação, mas vou esperar pelo último recurso para fundamentar aquilo que sinto.
Há um dado mais do que adquirido: a Casa Pia falhou no seu propósito. Surgiu como uma instituição que deveria proteger os jovens em risco, com estruturas familiares abaladas, e acabou por se revelar um verdadeiro inferno para todas aquelas crianças e adolescentes abusados ao longo de vários anos. Também ela deveria estar no banco dos réus. No fundo, toda a sociedade compactuou com a monstruosidade que sobreviveu até há poucos anos na Casa Pia. Sabiam-no, mas não falavam.
Este processo, todavia, também teve consequências para mim. Ganhei um interesse especial pelo Direito. Se tinha algumas dúvidas entre Direito e História, essas dúvidas dissiparam-se com o Caso Casa Pia. Há uma beleza na Lei, nas sessões dos tribunais e em todo o protocolo judicial que me encantou. Agora sei que quero seguir Direito.
Que a Justiça fale mais alto. Apure e julgue os factos de forma imparcial e cega, seja qual for o desfecho.

5 de setembro de 2010

Amar-te...



Os dias de Sol do início de Setembro revelam um Verão que começa a dar sinais do seu fim. As tardes ganham um ar dourado, mágico e calmo. O ambiente propício à nossa viagem pelo sul de Espanha. Recordo-me de percorrermos o Algarve até chegarmos à Andaluzia. Tenho saudades do azul de final de tarde, dos campos de mato pálido e do ar quente e abafado de um Setembro promissor. Foi tão difícil convencer a mãe a deixar-me ir contigo. Ainda sorrio quando me recordo da birra que fiz, temendo o pior. «São tão novinhos ainda! Há quanto tempo tirou a carta?» - dizia, desesperada. Tive de lhe contar que, apesar de tudo, tinhas dezanove anos e até eras responsável. Para além disso, conduzias bastante bem. Foi um passeio, um passeio longo, é certo, mas não mais do que isso. Foi o meu melhor Verão. O mais desejado, o mais recordado, o mais vivido. Vivi como uma pessoa comum. Apanhei frio, uma vez que as noites arrefeciam, apesar de me pedires que vestisse o casaco; comi mal, apesar de pararmos para jantar; respirei poeira da estrada, apesar de saber que não me faz nada bem. Não te aponto nada. Sempre te preocupaste comigo e revoltava-te saberes que poderia adoecer por uma eventual culpa tua. Porém, eu precisei de arriscar, de ultrapassar o meu limite. Se a mãe soubesse... Foi tão bom viver sem regras, sem horas, sem etiquetas do que é bom ou mau, certo ou errado.
No fundo, amei-te. E...
Amar-te é desejar estar perto de ti.
É olhar para as tuas fotografias e sentir um arrepio por toda a pele.
É querer beijar-te até se esgotar o ar que respiramos.
É querer abraçar-te por tempo indeterminado.
É não ter medo da morte...
....
....
....
...se com a sua vinda ficasse eternamente perto de ti.

4 de setembro de 2010

Caixa de Música



Ainda me recordo daquela caixa de música. Uma caixa pequena mas elaborada, simples e com adornos feitos em tinta vermelha. Nela, cuja bailarina dançava ao som dos meus pensamentos, nascia uma música suave, melodias de outros tempos, actuais como nunca. Um som baixo, embora audível. Os pensamentos dançavam no compasso de cada nota. A sensação que me toma é a de que cada música vinda destas caixas mágicas é triste, nostálgica, despertando memórias adormecidas com o tempo. O passado retorna e condiciona o presente.
Guardo a caixa de música, oferecida em pequeno, num lugar especial. E, às vezes, abro-a e rodo a sua corda. A bailarina começa a dançar. O vestido que traz parece que ganha vida e cor, iluminada pela luz do meu abajur. O pequeno espelho que reveste o interior da caixa realça o sentimento misto de passado e presente. A música traz-nos o passado; o espelho, esse, surge destinado a fazer-nos ver o presente. Talvez tenha sido esse o propósito. O sentimento de alienação ganha um outro sentido. Os pés continuam na terra, mas os sonhos voam à velocidade da luz. Da nossa luz, daquilo que a música nos faz despertar.
Quando, por fim, a música acaba e a caixa se fecha, a vida toma o seu sentido original.
E nós tomamos o sentido que a vida nos imprime. Para sempre.

3 de setembro de 2010

Um Jantar Diferente



Ontem de tarde, eu, a mãe e a amiga da mãe (ai, amiga da mãe já começa a chatear. A P.) decidimos organizar um jantar em casa. Desde que estamos de férias jantamos sempre em restaurantes, o que se torna cansativo, para além da necessidade que todos temos de comer alimentos confeccionados de outra forma, digamos, mais caseiros. A mãe não sabe cozinhar; a P. diz que quando era solteira quem cozinhava era a mãe, depois de casada tem empregada; e eu não entendo nada de cozinha. Chegámos à conclusão que até seria divertido. Claro que tínhamos pequenas ideias de como se confecciona um prato.
Depois da praia, fomos ao supermercado comprar tudo o que fazia falta para o nosso jantar. Comprámos macarrão, tomate em calda, vinho para temperar, noz moscada, etc, etc, etc. De seguida, fomos ao talho. Gostei tanto. Nunca tinha entrado num. A coisa mais parecida que tinha visto foi o talho do El Corte Inglés, mas este era um pouco diferente. Um dos homens estava a cortar qualquer coisa e fazia imenso barulho. É incrível como ele consegue cortar a carne de forma tão rápida sem machucar os dedos. Comprámos frango do campo.
Já em casa, começámos a preparar aquele que viria a ser o nosso jantar. Lavámos a carne bem lavada e fomos colocando os ingredientes, um por um. A parte mais caricata surgiu na hora de ligar o "fogão". A mãe e a P. estavam na sala a beber Martini e eu fiquei de ligar aquilo. Ora, eu não me recordo de ver um "fogão". Em casa, desde que me lembro, sempre tivemos placa eléctrica. Aquilo tem botões e bicos e sei lá o quê! Virei o botão e fui até à sala ao encontro delas. Passado um pouco, cheirava imenso a gás. Sou tão estúpido. Não deduzi que o gás estava a sair. Mas eu não sei! Não tenho experiência disso. Rimos tanto. Abrimos a janela para arejar a cozinha. Já com a ajuda da P., colocámos a comida "ao lume". De salientar que risquei quatro fósforos e só ao quarto consegui.
Bom, o jantar estava óptimo! Nunca pensei que conseguíssemos. Eu não como carnes vermelhas há uns anos. A minha alimentação é baseada em peixe e leguminosas, essencialmente. Às vezes, como carnes brancas, mas raramente. Tudo seguido de perto pelo nutricionista da mãe. Aliás, eu não aconselho ninguém a fazer restrições alimentares sem consultar um médico.
Foi um jantar diferente. Uma experiência nova. Confesso que não fiquei muito inclinado a repetir. :)

1 de setembro de 2010

O Sonho de Um Novo Império



O Império Romano há muito que preenche o imaginário dos europeus. A sua imponência e o seu poder fascinaram de tal forma a Europa, que o seu desejo foi o de alcançar tamanha glória e brilho. Ao longo do tempo, a vontade de tornar a Europa de novo o centro do mundo, de forma a espalhar a sua hegemonia aos outros povos, tem sido o objectivo de várias individualidades. E até o era mesmo quando a Velha Europa mostrava as suas cartas a todos os povos do planeta.
Comecemos com Carlos Magno, fundador daquele que se considerava o herdeiro do extinto Império Romano do Ocidente. Carlos Magno viveu nos séculos VIII e IX e tinha como grande desejo a conquista da Península Ibérica aos povos muçulmanos, desejo que nunca conseguiu concretizar. Quem sabe onde a sua ambição o levaria? De qualquer forma, o Sacro Império Romano-Germânico foi uma potência europeia até ao século XIX, embora nunca tivesse alcançado a majestosa Roma Antiga em termos de prestígio e poder.
Outro bom exemplo da vontade de recriar de novo um Império inspirado no Império Romano é-nos dado por Napoleão Bonaparte. Napoleão, depois de se autoproclamar Imperador da França, pretendeu unificar a Europa (e o mundo) sob a sua égide. Tal como Carlos Magno, vivia obcecado, desta leva com a conquista da Inglaterra. Por ela decretou o Bloqueio Continental e invadiu Portugal (pensando dividi-lo, como foi acordado no Tratado de Fontainebleau). Também colocou o seu irmão no trono de Espanha, José Bonaparte, para além de uma campanha contra a velha aliada, a Rússia. Tal como o seu antecessor, fracassou no seu intento.
Já no século XX, o melhor (pior...) exemplo vem directamente da Alemanha, com Adolf Hitler. Hitler, com o seu sonho imperialista, cometeu algumas das maiores atrocidades da História, ficando conhecido como o obreiro do Holocausto. Justificou na sua GrossDeutschland, a necessidade de exterminar milhões de seres humanos. Tal como Carlos Magno e Napoleão Bonaparte, perdeu o seu jogo (para o bem da Humanidade).
Mais recentemente, a União Europeia é um sonho, mais moderado, de trazer de novo a supremacia europeia. O sonho de uma Europa Federal paira sobre os governantes europeus. Entre uns E.U.A poderosos e (ainda) a primeira potência mundial; uma Rússia que desde a queda da União Soviética perdeu o fôlego, mas continua a fazer valer a sua voz e uma China que cresce exponencialmente a cada dia, a União Europeia surge desta vontade de dar à Europa a voz perdida algures no fim da I Guerra Mundial. A prova disso foi o Tratado de Maastricht, que imprimiu um cunho político à construção europeia. O revés da Constituição Europeia, disfarçado e aparentemente ultrapassado com o Tratado de Lisboa, demonstra a fragilidade da Europa política.
A História tem provado que a Europa é um mosaico de vários povos, culturas e tradições. A sua união política é meramente utópica. É impossível unificar o que é diferente. Claro que existe a necessidade de se aprofundarem os laços comerciais e económicos entre os países europeus, todavia, tudo o resto é um insignificante sonho imperialista.