20 de agosto de 2010

Há Sempre um Adeus



Nada é eterno. Temos sempre, durante a nossa vida, de dizer adeus a alguém. A um amigo, a um familiar, a um conhecido... Todos partimos, sendo que a definição do local da possível chegada remeter-me-ia para questões filosóficas e religiosas, situação que quero evitar neste post, de forma a manter uma pureza singela das palavras. A morte, ou partida, é tudo o que temos de certo na nossa existência. Aliás, faz parte dela. Evitamos ao máximo este assunto. Não é próprio para se falar numa noite com amigos ou familiares. A morte, essa, está distante, quanto mais longe melhor. Ninguém a aborda; todos a temem. Concordo, em certa parte, com esta tendência natural do ser humano. A manutenção da vida e a sua defesa afastam peremptoriamente toda e qualquer ideia de morte. A vida importa, a morte não. Mas a morte existe e é um facto com o qual temos de lidar. Inevitavelmente, lidamos com a nossa morte e com a morte dos que nos rodeiam. Por isso, defendo a tese de que não existe uma morte, mas sim várias mortes. Cada uma amadurece-nos e ajuda-nos a lidar com a próxima. É um processo normal e, em muitas dessas vezes, não temos a percepção de como tudo sucede.
Sou apologista de que a morte deve ser encarada normalmente. Devemos falar nela, abordá-la naturalmente. Não digo que o façamos em situações complexas e despropositadas, não. Porém, devemos falar de quem partiu com carinho, relembrar quem já não se encontra na nossa companhia e, essencialmente, preservar todos os bons momentos que sobrevivem à morte corpórea. As nossas recordações, patentes em fotografias, cartas, escritos, vídeos, etc, vencem a morte e resistem-lhe para todo o sempre. Existe sempre algo que nos traz de volta a pessoa amada. Só morre quem nós queremos que morra. As pessoas continuam vivas em nós, por vezes mais vivas do que quando efectivamente o estavam. Começa em nós, o processo de preservar essas memórias e esses testemunhos daqueles que nos precederam na partida.
Não deixemos que a morte nos traga o medo de viver. Antes, tenhamos o trabalho de a perceber e de olhar para ela de forma descontraída. Afinal, somos efémeros como o tempo.






Ao Nuno (9-8-1970 / 20-8-1999) e à bivó Palmira (2-4-1908 / 22-8-1997), todo o meu amor e carinho pelos bons momentos que vivemos. Lots of Love, Mark

9 comentários:

  1. Os nossos familiares e os nossos amigos que partem obrigam-nos a pensar na morte, mas que esse pensamento seja sempre causador não de tristeza, mas sim de alegria de viver...

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  2. Como todos somos diferentes, tenho umas opiniões diferentes das tuas neste tema, mas não as irei discutir, pois não passa de filosofias e modos de ver a vida... E a morte.

    Só a minha curiosidade: define "morte corpórea".

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  3. Concordo inteiramente, Pinguim. :)



    Vasco: Morte corpórea é a morte corporal, da matéria. Este meu discurso pressupõe, necessariamente, a crença em algo para além deste sistema terrestre. Não quero com isto dizer que acredito na imortalidade da alma; apenas fui educado com estes valores em que, nomeadamente, o pai acredita. No entanto, tenho uma inclinação natural para acreditar em alguma coisa. :)

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  4. Ok Mark, era mesmo para confirmar isso.
    Eu acho reconfortante acreditar em algo pós-morte. :)

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  5. Eu estou como o Vasco...no dia em que morrer, se "lá chegar" e não houver "mais nada" faço um escândalo!!!
    Onde é que se tolera, uma pessoa viver esta vida e depois não haver mais nada? Hum????

    Custa-me aceitar a morte...o fim...e parar de viver, sonhar, ansiar, até sofrer...

    Como diz uma amiga minha..."nós morremos, e depois de nós vão morrendo todos aqueles que se lembram de nós...quando esses se forem...mais ninguém saberá que passaste pelo mundo!"...

    Este esquecimento atormenta-me!

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  6. Concordo plenamente contigo, enquanto não percebemos que a morte faz parte do nosso ccilo vital e não falarmos dela abertamente sem medos será sempre um tabú.
    Por mais que nos custe a partida de alguém temos que a encarar de uma forma naural e recordar todos os bons momentos.

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  7. Hydrargirum: É incrível como eu concordo com cada palavra tua. A morte de cada um que nos conheceu torna-nos cada vez mais vagos e distantes, até que puff... desaparecemos! :S É horrível.


    O meu reflexo: Exacto, a melhor maneira de lidar com a morte é retirar todo o tabú que existe em relação a ela. É natural que tenhamos medo, mas temos de aprender a aceitá-la. :) E, claro, guardar no coração que já partiu.



    Juci: Beijinho.

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