30 de junho de 2010

O Cabo das Tormentas






"Não há culpados. O que há são desgraçados." William Shakespeare


PS: Carlos Queiroz: Out!

29 de junho de 2010

Nunca Tão Longe



A distância é um mero detalhe para quem ama de verdade. No entanto, mais prejudicial do que a distância física é a distância que se ergue entre duas pessoas, de forma propositada, intencional, cujo único objectivo é afastar os sentimentos nobres que as unem.
Se soubesses o que é gostar de alguém, dificilmente te afastarias desse modo. Tão perto e simultaneamente tão longe, como as aves que pousam nos beirais de uma qualquer janela. Livre com a sabedoria da Natureza, mas preso pelo que sentes, pelas emoções que, dia após dia, despertam em ti e te fazem viver esse enredo que mais parece ser uma partida do teu destino. Causa mágoa recordar o passado, assistir ao presente e antever o futuro. Causa mágoa a distância artificial que te torna uma pessoa pior, metódica e calculista, atributos que pareciam mais desconexos do que um dia de chuva sob um sol quente e acolhedor. A recordação não é mais do que um quadro que pintámos no nosso imaginário irreal, forma de perpetuar o que é sagrado, passível de necessário e essencial para que mantenhamos o nosso equilíbrio. O teu afastamento é progressivo, contabilizável como os grãos de areia que existem num areal vasto e extenso. O número existe, está lá, queira a paciência humana ousar enfrentar tão tenebrosa tarefa.
Tão perto e tão longe. Nunca tão longe como agora; nunca tão perto como dantes. O que nos separa é muito menos do que o que nos une. O que nos une é feito de carne, de fé e de crença no amanhã. O que nos separa é feito de mácula de medo, abstracção e, quem sabe, projecto indefinido.
Algo palpita em mim. A tua realidade. Nunca estivemos tão longe.

27 de junho de 2010

Primeiro Arraial



Ontem, fui ao meu primeiro arraial no Terreiro do Paço. Logo que soube desse evento, decidi ir. Nunca tinha ido a um arraial, nem gay, nem hetero. Como já o disse várias vezes, sou um pouco avesso a tudo o que é popular, porém, achei que seria divertido.
Convidei a Só que, apesar de heterossexual, é a única amiga suficientemente cool, divertida e desinibida capaz de ir a um evento deste género. É evidente que as outras amigas que tenho também são liberais e divertidas, no entanto, digamos, são demasiadamente elitistas para participarem nestas cerimónias. Ou seja, são tias. Há uns dias atrás, quando fui ao almoço de Santo António, combinei sair um destes dias para um sítio diferente de tudo aquilo a que estou habituado. Com mais emoção e com maior proximidade com as pessoas comuns. Foi a oportunidade esperada. A Só é o oposto de mim. Eu sou mais mimado, elitista e pacato; ela é mais espontânea e sabe relacionar-se com todo o tipo de pessoas.
Fomos de metropolitano até ao Rossio e descemos a Rua Augusta. Quando chegámos, já eram umas 22 horas, o ambiente era divertido (o que seria de esperar) e bastante animado. A praça tinha umas tendas onde estavam alojadas várias organizações e bares. O ambiente não tinha os preconceitos normais que costumam existir no dia-a-dia. É importante referir que, como espaço aberto que é, qualquer simpatizante podia participar e eu cheguei a ver alguns namorados comuns (homem e mulher), o que demonstra a normalidade destes eventos, retirando aquele estigma ridículo de too gay.
Não estivemos muito tempo, até porque estávamos sozinhos. A Só bebeu uma cerveja e eu um sumo. Acho que nunca o referi, mas sou abstémio convicto. Fomos alvos de alguns olhares, talvez pelo facto de estarmos sozinhos. Alguns terão pensado: "Mais um gay e uma lésbica...". No entanto, o rapaz que nos serviu pensava que éramos namorados, vejam só! Será que somos assim tão discretos? Só consigo arranjar uma explicação: a nossa profunda sintonia mascara-se de amor perante as outras pessoas.
Foi engraçado, na medida em que conheci um arraial. Fui mais por esse facto. Apeteceu-me algo mais popular, fora do meu contexto habitual e rotineiro. Deve ser incomensuravelmente mais divertido para quem está habituado a este tipo de festejos, sejam gays ou comuns. Eu não estou, mas suscitou e aguçou (ainda) mais a minha curiosidade.



PS: Também dançámos e brincámos. Foi um serão diferente. xD

25 de junho de 2010

Michael Jackson



One Year


   I miss you...


1958 - 2009

A Alma não se entrega.



Tudo em mim pode ser oferecido, dado ou até mesmo cedido. Posso estar longe de ti, sonhando-te com a minha mente, beijando os teus lábios irreais e distantes e vendo o teu sorriso que esboças, embora saiba que não é para mim. Posso entregar o meu corpo à perdição e ao desejo de quem o quer, à loucura sadia que nos toma em dias que são mais longos do que a própria eternidade, porém, a minha alma não está à venda, nem à cedência de quem a queira por capricho ou por mero desafio a ser ultrapassado. A minha alma é tua. Tão tua como outrora, tão tua como nos dias em que me amavas mais do que a própria vida. Nesses dias em que te perdias na imensidão dos meus braços, pedindo, implorando, que te abraçasse e lançasse o medo num abismo profundo. Está à tua espera, como nas tardes em que adormecias a meu lado depois das aulas. Quer ouvir de novo o bater ligeiro do teu coração, sentir a tua respiração e soprar suavemente sobre a tua pele nua e despida de fantasmas. Esses ficavam lá fora. Continua eternamente à espera do teu regresso como um todo, como nos meses cujo nome eras tu e eu.
Consegues dissociar alma de corpo, material, vil e sujo? Não creio. Entregas tudo a quem quer. Nada guardas para ti. Perdes-te nos meandros da paixão súbita e louca. Perdeste o ser, a substância da vida e a tua alma. Essa que tinhas e deixaste fugir como um pássaro ávido de liberdade.
Já não vejo nada em ti. Perdi-te como um todo.
Resta o vazio onde, em tempo imemoriais, habitou uma alma doce e pura.

23 de junho de 2010

Manhã de Compras



Hoje de manhã acordei bem cedo para fazer algumas compras com a avó. Após o fim das aulas, eu jurei a mim próprio que não iria sair da cama antes das onze da manhã durante os meses de férias, mas, afinal, não foi necessário muito tempo para quebrar a promessa... Ontem, a avó convidou-me para ir ao El Corte Inglés porque, imagine-se!, quer comprar mais um serviço de louça. Ela já tem imensos, mas mesmo assim. Não quis ir apenas com a avó. Convidei a Pati, que também já está de férias.
Fomos de carro, comigo a conduzir. Foi a primeira vez que transportei a avó e estava nervosíssimo. Correu tudo bem. À chegada, levou-me ao piso da Moda Casa que, por acaso, eu adoro. Tem coisas giríssimas e dá uma enorme vontade de comprar tudo. Deixámos a avó sossegada a escolher o seu novo serviço e descemos ao piso de entrada, onde se localizam os cd's, os livros, etc. Enquanto estava na livraria, aproveitei para procurar uns livros sobre o Direito que, como sabem, é a minha prioridade. Sinto uma mão a tocar-me no ombro.
-"Olá, olá, 'tás bom?"
Assustei-me e olhei para trás, pensando tratar-se da Pati, com mais uma das suas brincadeiras. Era um rapaz que conheci há imenso tempo, filho de um empresário que colaborou com a mãe. Não me recordava do seu nome. Que situação incómoda...
-"Olá, tudo bem? Por aqui a esta hora? Tu és o (?), desculpa." - disse-lhe, envergonhado.
-"Não faz mal." - sorriu - "Sou o (...). É verdade. Eu trabalho perto daqui, sabes?" - respondeu-me, sorrindo.
Eu já não me recordava dele, mas, apesar de não ser um deus na Terra, tem um sorriso encantador, é extremamente educado (valor que prezo imenso), tem uns gestos super charmosos, os olhos são ligeiramente rasgados e é mais alto do que eu (essencial!).
-"A sério?" - questionei-lhe - "Mas, se bem me lembro, estavas a tirar um curso qualquer..."
-"Sim, e estou. Mas também estou a trabalhar para pagar as propinas. Tem de ser!" - exclamou, sempre sorrindo.
"Humm, giro, educado, culto e trabalhador. Que espécie rara..." - pensei.
-"Mas, desculpa intrometer-me, tu não precisas propriamente de trabalhar para pagar propinas, ou estou enganado?" - perguntei-lhe, tentando disfarçar a indiscrição com um sorriso.
-"Não é essa a questão. É assim que aprendemos o que é a vida. O pai quer que eu trabalhe para saber o que o dinheiro custa. Quer que eu comece por baixo, como ele começou. E eu também quero sujar as mãos, para crescer." - respondeu-me, decidido.
"Toma, bem feita para aprenderes a ficar calado. Deu-te uma bela lição. És um tiozinho inútil, fútil e debochado..." - pensei.
-"Humm, pois, fazes muito bem.." - senti um calor a subir pelo meu corpo. Corei. - "Isso é uma grande... lição de vida..." - as palavras sairam a murmurar.
-"E tu, o que fazes?" - indagou-me, sempre sorrindo.
-"Bom, presentemente, estou de férias. Acabei o 12º. Espero entrar em Direito." - respondi-lhe, deixando o incómodo da situação anterior desaparecer subtilmente.
-"Fazes bem. Direito é uma boa opção, apesar de alguns dizerem o contrário. E agora, vieste às compras?"  - constatei que queria prolongar a conversa.
Contei-lhe que estava com a avó, que deixei no piso dos artigos do lar, e com uma prima, que, àquela altura, já nem sabia onde estava.
-"Muito bem, gostei de te ver. Gosto do teu cabelo e do corte." - sorriu, afinal, creio que sentiu que podia arriscar mais um pouco.
Não fiz por menos.
-"Oh, obrigado! Gosto dos teus olhos e da tua simpatia." - disse-lhe, sorrindo.
Riu, levando a mão à cara, num gesto que adorei.
Quando se preparava para falar, chega a Pati. Fiz as apresentações e senti que era chegada a altura de nos despedirmos, porém, não podia ser para sempre. Fala, fala, pede, pede!!! Pediu.
-"Dás-me o teu número?" - perguntou-me, envergonhadamente - "O teu nome é (...), que ainda me lembro."
A Pati olhou para mim seriamente, de seguida, olhou para ele.
-"Humm, já vi tudo..." - murmurou, baixinho - "Espero ali, perto dos perfumes."
Dei-lhe o número e despedi-me com um aperto de mão. Voltei para perto da Pati. Decidimos subir para ver o que a avó andava a fazer. Lá estava ela, a escolher o seu mais recente serviço de louça, com entrega ao domicílio, claro.
Comprámos e voltámos para casa da avó. À chegada, tinha uma sms dele no meu telemóvel.


"Gostei d t ver. Olha se quiseres podemos almocar  ou assim. Diz qlqr coisa. Gostava d t ver novamente =)"


Respondi-lhe afirmativamente, mas não dei uma data. Sinceramente, apetece-me e não me apetece. Parece paradoxal e, no fundo, é. Nos dias de hoje, é tudo muito fácil. Olá - Número - Almoço - Beijo - Cama. Detesto estas sequências. Comigo, não. É apenas mais um número na minha lista.


22 de junho de 2010

Um Selinho



Bom, recebi o meu primeiro «selo» desde que estou na blogosfera, há dois anos (Lol). Foi-me oferecido pela Sofia (aqui). Eu não ligo a estas coisas, mas por respeito à Sofia, que é uma simpática, aqui vai.

Desafios:

1. Publicar a imagem do selo e dizer quem o passou.

2. Responder à pergunta: O que te aquece o coração?

3. Passar o selo a 10 blogues.

Respostas:

1. Este ponto já está respondido em cima. :)

2. Várias coisas me aquecem o coração. Sendo mais fútil, uma tarde de compras fantástica; sendo mais sério, a paz e a fraternidade entre os seres humanos.
 
3. Passar a dez blogues? Humm, passo a todos os meus leitores. :)

21 de junho de 2010

Dia Emocionante (Exame, Futebol e.... Jogador!)



Hoje foi um dia carregado de emoções. Em primeiro lugar, foi o dia do meu exame de História. Não me irei pronunciar sobre o exame. Sou extremamante cauteloso nestes aspectos. A seu tempo, dentro de duas semanas, sensivelmente, saberei os resultados. Aí, sim, falarei.
Mas, o dia não foi apenas emocionante para mim. Milhões de portugueses, em Portugal e nas comunidades espalhadas pelo mundo, vibraram com a goleada de 7 - 0 à Coreia do Norte. Até eu, que não gosto particularmente de futebol, fiquei feliz. É verdade que foi difícil concentrar-me no exame com o barulho daquelas trombetas horrendas e das buzinas dos carros, no entanto, compreende-se. Quando entrei na sala, sabia que Portugal estava a ganhar por 3 golos, mas não deduzi que o motivo fosse a goleada. Pensei que estavam a comemorar apenas a vitória, singela, porém, uma vitória. Afinal... Parabéns à nossa selecção.
Depois do exame, telefonei a uma amiga para, se pudesse, passear um pouco comigo. Fomos até à Baixa dar uma volta. Eu não ligo muito à Baixa, mas fui. Ela gosta imenso.
Enquanto andávamos, um grupo de espanhóis estava sentado num café a ver o jogo da Espanha, que terminou há pouco tempo. Por um mero acaso, olhei para o televisor e vi este jogador da selecção espanhola. Fiquei perplexo. Eu e a amiga. Este jogador, cuja fotografia coloco neste post, o Gerard Piqué, é tão, mas tão parecido com um certo rapaz que... bom, não vou falar muito nele, visto que o abordo, de forma subtil, em alguns dos meus textos. São quase semelhantes: a cor dos olhos e do cabelo, o corte, sendo que o Piqué é mais encorpado. Eu não o conhecia, aliás, eu não conheço praticamente nenhum jogador de futebol, mas perguntei a um espanhol o seu nome. Disse-me que era «Piqué» e foi só pesquisar na net.
Relembrou-me uma certa pessoa que prefiro esquecer. Fiquei nostálgico. Todavia, senti uma sensação boa, como uma brisa suave a passar-me pela pele. Há coincidências assim.


PS: Fiquei fã dele! ^^

20 de junho de 2010

Lead the Way - Mariah Carey



Em vésperas de exame de História, decidi guardar um tempo para ouvir música. Esta, é uma das baladas mais tocantes que alguma vez ouvi. Fez parte do álbum Glitter, da Mariah. Por mero azar, o álbum e o filme homónimo que o acompanhou, visto ser uma banda sonora do filme Glitter, estrearam no dia 11 de Setembro de 2001... Exactamente, o dia fatídico dos atentados suicidas ao World Trade Center e ao Pentágono. Nessa época, os media norte-americanos necessitaram de encontrar um alvo a abater, uma espécie de bode expiatório. Pois bem, esse alvo foi a Mariah. O filme e a sua respectiva banda sonora foram injustamente criticados, o que conduziu a Mariah a um esgotamento nervoso que a acompanhou durante longos e difíceis meses. Na realidade, ambos têm a sua qualidade, e a prova disso mesmo é esta balada poderosa a que aconselho a ouvirem. De acrescentar, que a Mariah atingiu a sua nota mais longa em estúdio com esta música, precisamente 18 segundos, no final.
É, sem dúvida alguma, uma música excelente para quem ama.


 Lead the Way - Mariah Carey (Glitter, 2001)

19 de junho de 2010

Gravatas



Contrariamente a muitos jovens, eu adoro usar gravatas. Talvez por ser uma peça de vestuário a que me habituei a usar desde muito cedo. Eu comecei a usar gravatas com três anos, ou seja, o período que coincidiu com a minha entrada no infantário. A mãe e o pai escolheram um colégio de renome que tinha como norma o uso de uma farda infantil. Nessa farda estava incluído o uso de gravatas. Ainda hoje guardo com muito carinho essas fardas da minha infância. Devido a esse facto, a mãe comprou-me imensas gravatas de criança, predominantemente da cor azul, verde e bordeaux. Ficávamos tão bem. E as nossas indumentárias eram mais bonitas do que as das meninas.
Com o passar dos anos, esse hábito manteve-se, uma vez que até ao 9º ano de escolaridade frequentei um colégio que tinha como estatuto o uso da farda e da gravata. Para mim, nunca foi uma imposição. Aprendi a gostar de gravatas e já não passo sem elas. É evidente que não uso todos os dias, mas é habitual vestir camisa e gravata. Gosto, acho elegante e diferencia-nos da vulgaridade que existe por esse mundo igual e banal. Muitos dos meus amigos rapazes também usam. É um hábito e um costume, na medida em que os nossos pais também o fazem. Aliás, é raríssimo o pai não usar gravata e fato. Não gosto muito, muito de fatos; aprecio uns jeans, ténis (de marca e giros, always...), uma camisa moderna e uma gravata. Acho giríssimo. Às vezes, a vulgaridade e o mau gosto que existe neste país repugna-me e assusta-me.  Como o uso da gravata está a generalizar-se, é vê-los com o nó das mesmas largo. Tenho a dizer: não há coisa mais horrorosa. O nó da gravata é para usar comodamente apertado ao colarinho da camisa. Detesto deturpações da moda. É que ainda pensam que ficam giros!
Por isso, e como quero ser jurista, o uso de fato e gravata está mais do que enraizado na minha vida e nas minhas tradições familiares. Acho que saí à mãe. É, de todas as mulheres que já conheci (e conheci muitas, acreditem...), a que mais abomina a vulgaridade. A sua vaidade, por vezes, também considero exagerada, mas eu não sou muito diferente.
Resta acrescentar que atingi o número de cinquenta gravatas, com a minha recente aquisição de ontem. Ou seja, devia estar a estudar para o Exame Nacional de História, mas fui comprar uma gravata. Não me arrependo. Vou estreá-la na segunda, no dia do exame, já está decidido.

18 de junho de 2010

Renasce em Mim



Quem diria que eu iria me apaixonar por ti? Parecia tão pouco provável, como mais um daqueles sonhos alvos que despertam no doce sabor de cada madrugada. Mas assim foi. À primeira vista, ao primeiro olhar, à primeira troca de sorrisos. Uma luz forte que penetra e ilumina todos os nossos sentidos. A textura dessa sensação que nem a mais bela palavra do mundo consegue descrever. Uma vontade incontrolável de te ter, de sentir essa chama quente a inebriar todo o sentido que o mundo tinha para mim. Uma peça que faltava para preencher esse hiato que me guiava e me tomava como seu.
Quem diria que irias pertencer a mim, nem que tivesse sido por tão pouco tempo? Essa entrega total, quando a vontade toma as rédeas do medo, controlando-o até à exaustão. Fechaste os olhos e beijaste-me pela primeira vez, prenúncio do que viria depois. Mais do que o primeiro, seria como um último. Esse ímpeto mágico que te tomou e que te levou a amar-me sem medo, sem receio do amanhã. Consegui tocar na matéria dos sonhos com a tua mão, com o teu doce olhar. O tesouro mais precioso estava em nós e na nossa atitude de entrega. O teu toque de veludo em mim. Vimos a luz que nos guiou pelo caminho da mais pura inocência. Nada foi como dantes. Eu mudei, tu mudaste.
Porém, agradeço-te cada momento que vivi. A lembrança vagueia em mim como um ser perdido da sua fonte primitiva, não obstante, mantém-se cá dentro, qual prisioneiro do meu corpo, da minha alma que ainda clama pelo teu nome todos os dias.
Ainda acredito em ti.
Não pertences a lugar algum.
Volta, e renasce mais uma vez.

17 de junho de 2010

Pesada Herança Colonial



Como se sabe, muitos homossexuais, bissexuais e transexuais continuam a sofrer terríveis humilhações e violações dos seus direitos apenas por se distinguirem da maioria heterossexista. O que talvez muitos não saibam é que, apesar de em Portugal a homofobia continuar activa, é o país de Língua Portuguesa que mais respeita os direitos da comunidade LGBT. O Brasil é um país que continua a dar grandes passos no avanço e no reconhecimento da igualdade entre LGBT's e a maioria heterossexual, não obstante, ainda se registam muitos assassinatos de homossexuais e transexuais, sobretudo. Nos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), a situação ainda é mais grave: a maior parte da legislação remete-nos para o período colonial, ou seja, a legislação existente nesses país é antiga, discriminatória e desactualizada. Os sucessivos governos dos PALOP têm outras prioridades, como o desenvolvimento dos seus países. Porém, ainda não têm a noção de que a extinção da discriminação à comunidade LGBT é essencial quando falamos de países verdadeiramente desenvolvidos. O desenvolvimento também passa por aí. Ainda há muito trabalho a fazer. Novamente em relação ao Brasil, o Presidente Lula é um "amigo" da comunidade LGBT, esperando-se, por isso, que os avanços continuem de forma progressiva e sustentada. Em África, o cenário mantém-se, com poucas organizações de defesa dos direitos dos homossexuais a exigirem mudanças na legislação. Em muitos destes países, a homossexualidade ainda é encarada não como orientação sexual, mas sim como doença, acarretando todos os preconceitos inerentes a este ponto de vista errado. O Jornal de Notícias publicou um artigo interessante que mostra a realidade LGBT nos países lusófonos, e que inspirou este meu post. Saibam mais aqui.

15 de junho de 2010

Os Dias Decisivos



Coloquei tanta expectativa no dia de amanhã que mais parece que estou na iminência de saber se vivo ou morro. Nunca gostei de tomar decisões ou de viver sob pressão. É, talvez, um dos meus defeitos e das minhas fraquezas. Gosto de calma, de tranquilidade, e não gosto muito de grandes responsabilidades, apesar de, no geral, ser bastante responsável e disciplinado.
Em relação ao exame de amanhã, seja o que for, decidi que não irei pensar mais no assunto até saber os resultados. Se correr bem, tanto melhor; se correr mal, não adianta chorar «sobre o leite derramado», e ainda tenho uma hipótese na 2ª fase. Uma coisa é mais do que certa: estou a sofrer por antecipação, sinto-me angustiado e isso não é bom para mim. Creio que estudei bastante, mas não sei se terá sido o suficiente. Penso sempre que poderia ter feito mais, dado mais de mim, o que não é verdade. Tenho que adoptar outra postura, tendo a plena consciência de que dei o meu melhor e de que darei, sem sombra de dúvidas, tudo por tudo amanhã.
Já tomei os comprimidos que tinha para tomar, já bebi os chazinhos todos e mais alguns, já descansei, já ouvi música, no fundo, fiz tudo o que estava ao meu alcance.
Detesto esta sensação, esta pressão horrorosa. Tomara que este período acabe bem depressa. Quero colocar os livros todos de parte. Escondê-los num sítio inacessível durante um bom tempo. Afinal, estudamos para quê? A vida não seria muito melhor se cada um estabelecesse as suas próprias metas e os seus próprios objectivos?
Cada vez mais, invejo os povos primitivos que ainda habitam em algumas regiões do globo. Vivem da terra e do que a Natureza lhes oferece. Não têm stress, nem horários a cumprir, ordens ou tarefas a realizar. São ingénuos naturalmente, uma vez que ainda não foram corrompidos pela maldade da civilização (Rousseau, como estava certo...) e têm todo um mundo selvagem, rico em biodiversidade, sem poluição e sereno para desfrutar até morrerem. Isto sim é viver. A educação e a civilização não trazem apenas o progresso moral e tecnológico: trazem também todos os seus efeitos colaterais. Não sei se as vantagens inequívocas compensam todo o aprisionamento a que estamos sujeitos no mundo civilizado.
Bom, dissertações filosóficas e existenciais à parte, decidi que amanhã, depois do exame, vou dar um longo passeio por Lisboa, sozinho. Quero tomar ar (poluído, é certo...), respirar e amenizar as minhas preocupações. Quero ir até ao Tejo, em Belém ou no Terreiro do Paço, ainda não escolhi. A pé, sem rumo e sem horários, com os telemóveis desligados porque sei como é...
"Onde é que anda? Está bem? E o exame como correu, querido, blá, blá, blá, blá, blá, blá...."
Não terei paciência para esses discursos. Às vezes, é bom estarmos sozinhos, andando e sentindo a vida, tal qual ela é.

14 de junho de 2010

Festas Populares



Nunca fui um apreciador de festas populares, apesar de já ter estado presente em eventos deste género, mas sempre tive curiosidade em estar mais à vontade, tentando aproveitar o que de melhor têm estas festas, libertando-me de alguns preconceitos em relação às coisas mais populares. Pensado e feito. Decidi organizar um almoço de Santo António, ontem, dia 13. Detesto confusão, barulho e cheiros a peixe, por isso, coloquei de lado a hipótese de ir na noite de 12 para 13. Foi tão divertido! De dia, é tudo bem mais calmo, tranquilo e sossegado. Fui com a mãe, a avó, duas primas e duas amigas. Achámos o máximo. Fomos até Carnide, a um restaurante típico que confecciona as tradicionais sardinhas da época, para além de outros pratos, que eu odeio aquele cheiro a peixe. Estivemos uns quarenta minutos à espera de mesa na esplanada, afinal, éramos sete. As paredes dos edifícios circundantes estavam decoradas com aquela decoração bem tradicional. Enquanto esperávamos, eu, as primas e as amigas fomos comprar o manjerico. Foi tão giro ter aquilo na mão. É um vaso com uma planta que dá um cheirinho óptimo, mas avisaram-me que temos de passar as mãos nas folhas, ao de leve, e só assim podemos apreciar o aroma. Não é fantástico? Nunca tinha comprado um. Comprámos três. E o mais engraçado é uma pequena quadra popular que acompanhava o vaso. Voltámos para perto da mãe e da avó. Passado um tempo, conseguimos a mesa. A mãe e a avó comeram as sardinhas; eu, as primas e as amigas comemos outros pratos. Estava um ventinho meio desagradável, mas foi muito giro. Os empregados eram simpáticos e eu adorei aquele bairro lisboeta, uma vez que é raríssimo ir para aquelas zonas mais periféricas. Aliás, soube um pormenor interessante: o Colombo (medo!) é ali perto. Foi uma das primas que me disse. Como é possível, um bairro tão simpático perto daquela coisa medonha...
Depois do almoço, queríamos dançar um pouquinho, mas o empregado do restaurante disse que ainda era muito cedo para a música e para a festa em si. Ficámos decepcionados, mas o almoço valeu a pena.
Gostei da tarde, gostei muito. Tinha de tudo: as tradicionais vendedoras de rua, a sardinha típica, um coreto e pessoas a comerem, blharghhh!, caracóis, enfim... Tudo mesmo. Nós é que parecíamos um grupo de alienígenas que aterraram no meio daquelas pessoas. Também, a princípio, estavam assim a olhar para nós com uma cara do género: "As tias vieram almoçar!", mas a avó nisso é muito prática: começou a comer as sardinhas com a mão. Disse mesmo:
-"Se não os podes vencer, junta-te a eles..."
A avó tem as suas coisas, mas ambienta-se bem em qualquer lugar. Eu já não sou assim, nem a mãe. E a avó paterna, então...  nem ali estava.
Ainda passeámos um pouco pela zona. Deu tempo para as primas ouvirem uns piropos de uns rapazes que iam a passar, o que muito desagradou a mãe, que detesta essas situações. Por volta das 18 horas, voltámos para casa, com os manjericos, óbvio. 'Tou encantado com aquilo. 'Tá no meu quarto, num pratinho com água, que a avó disse que aquela coisa bebe imenso.
As primas também adoraram. Até fizemos um pacto: vamos voltar, mas shiuuuuu!..., sem a mãe e avó saberem. Queremos ir de noite, mesmo para a farra. Vai ser giro. Nós, no meio de todo o tipo de gente. Que máximo.
Bom, no meio de tudo, ontem não estudei nada. Vou compensar hoje.


Disse que ia fazer uma pausa no blogue, mas constatei que escrever até me ajuda a descomprimir. Não posso estar sempre a estudar. Querem saber mais? Que se lixe. Lol
(Não reparar na linguagem) :)

13 de junho de 2010

Madonna - Take a Bow



Como já não suporto olhar para o livro de Preparação para o Exame Nacional de Português, visto que ao longo da semana não tenho feito outra coisa que não seja estudar, decidi colocar uma das músicas da Madonna de que mais gosto, apesar de não ser um grande fã dela. Não faz propriamente o meu género, nem de cantora, nem de artista. Mas, há músicas do seu repertório que eu adoro, incluindo este Take a Bow. Acho a música suave, bonita e doce. O álbum Bedtime Stories, que inclui este single, é um dos álbuns que a Leninha deixou em casa depois do casamento. Está a ajudar-me bastante no estudo. Eu só consigo estudar em silêncio mas, às vezes, necessito de fazer paragens para ouvir músicas suaves e inspiradoras. Digamos que é uma táctica.
Resta acrescentar que este single foi um sucesso em todo o mundo.

(Madonna - Take a Bow - Bedtime Stories, 1994)

10 de junho de 2010

Pausa



As aulas acabaram ontem. No entanto, o estudo ainda não está terminado. Entrei, oficialmente, em época de exames. Como sabem, para concluir o secundário e entrar no ensino superior, temos de realizar os benditos exames nacionais. O meu primeiro exame, de Português, é já no dia 16. O último, de História, é no dia 21.
A minha vida entrou em stand-by. Neste momento, só penso nos exames e no estudo a eles correspondente. Por estes motivos, decidi fazer um interregno no blogue, a contar a partir do dia de hoje e até ao dia 21 deste mês. É precisamente o período que corresponde aos exames nacionais que terei de realizar. Será melhor assim. Porém, achei que todos os meus seguidores e leitores mereciam tomar conhecimento deste meu desaparecimento temporário. Aliás, não devo ser o único a tomar esta decisão. Andam por aí muitos estudantes.
Pois bem, isto não significa que abandone o blogue durante este tempo; continuarei a vir cá sempre que possível, pretendo continuar a ler, se puder, os vossos posts e comentá-los, se for caso disso. É apenas uma pausa por motivos que entenderão, com toda a certeza.
Para mim, vocês que estão aí desse lado não são apenas entidades virtuais. Nada disso. Atrás de cada blogue está uma pessoa real e palpável, uma forma de ser única e um coração repleto de sentimentos e sensibilidades. A linha que separa o virtual e o real é muito ténue. A qualquer altura, queiramos nós, o virtual pode passar a real. Ganhei um carinho muito especial por algumas pessoas da blogosfera. Como é evidente, não vou citar nomes em concreto. Seria injusto da minha parte, na medida em que poderia facilmente esquecer-me de alguém. No fundo, serão todos os meus seguidores, os meus leitores e os que ainda estão para o ser. Cada um sabe quem é.
Espero, muito sinceramente, ter também um lugar no vosso coração.
Até ao meu regresso.

Lots of Love,
Mark

9 de junho de 2010

Um dia...



Foste cego ao perderes uma pessoa como eu. Igual a mim não encontras tão facilmente. Sei que pensaste que eu era substituível. Afinal, no teu entender, era apenas mais uma relação fugaz e rápida, tão rápida quanto a velocidade da luz. Esqueceste-te, porém, que cada pessoa é única, cada sorriso tem uma história, cada momento é irrepetível. Fui estúpido ao apostar em ti, ao acreditar nas tuas palavras. Mas sei que não encontras o mesmo que só eu te dou. Procuras as mesmas sensações que viveste, a mesma alegria da partilha e os sonhos que julgavas serem passíveis de se repetirem no tempo. Sabes, agora, o que é a diferença? Nem tudo é igual. Esse teu olhar infeliz não me diz nada. Cada um faz as suas escolhas. Ainda exibes a tua falsa felicidade como um troféu. Ela é tão querida, não é? Sou capaz de apostar que faz um esforço para ser como eu.
No entanto, um dia vais querer voltar. Vais chamar pelo meu nome. Em breve vais descobrir que não é qualquer pessoa que te fará feliz. Não venhas com choros arrependidos ou com palavras de comoção forçadas. Em mim vive esse abismo que te consome, que te despreza e que te dará a indiferença como prémio por tão mau desempenho. Vais falhar. Sei que sim.
Um dia, estarás de volta.
Mas eu não quero o teu amor nunca mais.

8 de junho de 2010

Um Novo Amanhecer

Gosto de acordar de manhã e sentir os raios de sol a tocarem ao de leve a minha cara. Sinto prazer com a alegria de um novo dia. É bom sentar em cima da cama e espreguiçar os braços, de forma a afastar o resto de preguiça que ainda vive em nós. Gosto de tomar o café da manhã na cama. Imagino como seria se estivesses aqui e colocasses uma pequena flor numa jarra, a ser oferecida com o leite, o sumo, as compotas e as tostas integrais. Idealizo o cenário que gostaria. Falta sempre o principal. Faltas tu.
Mas é sempre bom manter a nossa vaidade pela manhã. Adoro o cheiro do meu perfume que fica nos lençóis. Tenho esse hábito há imenso tempo. Antes de adormecer, coloco perfume em mim para senti-lo enquanto estou a dormir. Por vezes, durmo com um urso gigante, cor de pérola, que me foi oferecido no Natal passado. Sou assim. Especialmente único. Alguns dirão (e dizem...) que sou mimado, egocêntrico de forma exagerada e um pouco elitista. Como evitar as características que são assim tão visíveis? Gosto do meu mundo e gosto de moldá-lo à minha semelhança e à minha vontade. Gosto de ser diferente, gosto de não ser vulgar, bruto e rude. Sim, sou delicado, até no meu dormir. Detesto a luz forte e só gosto de meia-luz. Por isso, à noite, o meu espaço está sempre semi-iluminado. Ao acordar, sinto o sol a bater sobre a minha face. Gosto de acordar com o cabelo intacto, o que nem sempre é possível. Gosto daquele ar de arrumação, higiene e limpeza que fica no ar. Do meu livro, lido na noite anterior. Das minhas dez almofadas coloridas que dão vida à minha cama. Dos meus retratos, que me relembram, que te relembram e que trazem o que o passado levou consigo. Dos meus dossiers de lomba de várias cores, meticulosamente arrumados, que guardam toda a minha vida. Do meu diário íntimo, arrumado na gaveta entre a minha roupa interior, o mesmo lugar que ocupa desde a minha adolescência...
Ao levantar, gosto de me olhar ao espelho por vários minutos. Gosto de falar comigo. As minhas manhãs nunca são iguais. Há sempre um novo amanhecer, que se confunde com o anterior, mas que não deixa, por isso, de ser único.

7 de junho de 2010

Conversas em Família

Não se assustem. Apesar do título do post aludir ao programa homónimo de Marcello Caetano (que a avó odiava, afinal, governava muito «à esquerda!»...), de 1969, posso garantir que se trata de uma mera e simples coincidência. Em família, as conversas resvalam sempre para o campo político, financeiro ou cultural, principalmente quando se juntam os tios. Por vezes, também falam sobre futebol e golfe, mas são conversas que, sinceramente, não me seduzem nem um pouco. As primas já falam sobre assuntos que me suscitam mais interesse, exceptuando as mais novas, que estão sempre a falar da Miley Cyrus ou do Justin Bieber. O que eu sofro. A Patrícia tem lá os seus gostos, mas é uma querida. Aliás, são todos. Nesse aspecto tive imensa sorte. Também lhes transmito alguma coisa. Estão quase todas viciadas na Mariah Carey, o que é óptimo.
Ontem fui jantar a casa da avó. E, como é evidente, foi um jantar em família, apesar de não ter reunido os adultos. A avó gosta de se inteirar dos nossos assuntos, das notas escolares, enfim, de tudo. Sei que aprecia o facto de ter os netos à sua mesa. No fim do jantar, a Glória serviu-nos a sobremesa. Escolhi fruta, uvas, assim como a Patrícia, embora o bolo de chocolate tivesse uma cara apelativa. Evito ao máximo, muito mais agora, no Verão. Quando começámos a comer a fruta, a Patrícia tem uma saída fantástica:
-"Uvas? Sabias que é das uvas que vem o azeite?" - disse-me, peremptoriamente.
-"Não, querida. O azeite vem da azeitona..." - respondi-lhe, de forma meiga.
-"Não é nada! As uvas dão azeite e quando são amarelas o azeite é mais clarinho!" - ripostou.
-"Pati, ouve uma coisa, o que é que o avô tem na quinta do Alentejo?" - perguntei-lhe, esperançoso de que a pergunta surtisse algum efeito.
-"Não sei..." - respondeu-me, desiludida.
-"Tem oliveiras, querida. Daí vem o azeite que consumimos. A uva vem da videira e depois de todo um processo de transformação, dá origem ao vinho." - senti que ficou impressionada.
Confesso que os meus conhecimentos hortícolas, vinícolas e por aí são mínimos, mas isto é tão básico que senti-me mais parvo do que erudito.
Só estávamos os dois à mesa. Os primos já tinham saído e os avós também. Fez-se algum silêncio. Passados uns minutos, volta a falar.
-"O casamento gay já foi publicado em Diário da República. Os gays já podem casar!" - afirmou, decidida.
-"Pati, por amor de Deus, não sabes que as uvas dão origem ao vinho, mas sabes o que é o Diário da República? Surpreendes-me a cada dia que passa!" - disse-lhe, mostrando toda a minha admiração.
-"E não sei! Só sei que era imprescindível para que se pudessem casar." - respondeu-me.
Abanei a cabeça, desapontado. Após mais uns minutos de silêncio.
-"Já posso casar com a rapariga de quem gosto!" -  disse-me, sem qualquer pudor.
-"Pati, estás a brincar comigo, certo?" - indaguei, ansioso e nervoso, porque parecia tão real aquela afirmação.
-"Não, não estou!" - respondeu-me, de forma convicta.
"Será genético?" - pensei. "Que mais casos terá a família?" - mantive o raciocínio.
-"Pati, querida, o primo está contigo. Podes falar abertamente. Serei o último a censurar as tuas escolhas. Entendo o que passas. Eu estou aqui." - peguei na sua mão e mostrei-lhe toda a minha amizade por ela.
Desatou a rir na minha cara.
-"É claro que não sou lésbica, tonto. Apanhei-te. Gosto muito de rapazes, mas não tenho nada contra." - afirmou, mostrando o seu sorriso sarcástico e vitorioso, afinal, tinha-me enganado.
-"Que tonta que é! Não se brinca com estas coisas. Parva!" - levantei-me e saí, mostrando a minha indignação e fingindo estar aborrecido. Senti as suas risadas. Tem de aprender.
Não lhe dirigi a palavra durante o restante tempo que estivemos na casa da avó. Também não mostrava estar arrependida ou incomodada. Brincava e falava descontraidamente com as outras primas.
Hoje, enviei-lhe uma sms a mostrar que não estava triste com ela. No fundo, adoro-a. Era incapaz de me zangar com ela. Confesso que, quando cheguei a casa, ri-me do caricato da situação. Bobo fui eu. Acreditei nela.
E não é que me enganou mesmo?

5 de junho de 2010

Versos de Orgulho




O mundo quer-me mal porque ninguém
Tem asas como eu tenho! Porque Deus
Me fez nascer Princesa entre plebeus
Numa torre de orgulho e de desdém.

Porque o meu reino fica para além...
Porque trago no olhar os vastos céus
E os oiros e clarões são todos meus!
Porque eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!


                      O mundo? O que é o mundo, ó meu Amor?
                     - O jardim dos meus versos todo em flor...
                        A seara dos teus beijos, pão bendito...

                      Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
                     - São os teus braços dentro dos meus braços,
                       Via Láctea fechando o Infinito.





(Florbela Espanca - Sonetos)

4 de junho de 2010

Joga-me na Cama

Adoro a tua timidez e o teu jeito envergonhado, mas também gosto quando dás asas às tuas fantasias e à descontração que, bem lá no fundo, vive em ti. Nem sempre sou feito de palavras meigas, sensíveis e boazinhas. Sei ser fogo. Gostas - sei que sim - que te incendeie com toda a força que tenho. Que te provoque até que a loucura tome posse de ti e te torne num ser totalmente dependente dessa energia. Podemos ser um, hoje. Podemos viver as nossas fantasias mais profundas, deixando à superfície os nossos desejos mais escondidos. Vem viver isso comigo. Vem me dar prazer.
Sei que o queres. Sinto o teu desejo como um forte perfume que é exalado por todos os poros da tua pele. Transpiro sensualidade quando me sinto perto de ti. Vejo o calor que desperto em ti. O teu desejo patente nos teus olhos, nas tuas mãos já suadas e na tua língua sedenta de água pura e fresca de amor e vontade. A tua temperatura aumenta descontroladamente.
Joga-me na cama. Nessa cama que é minha, mas que também pode ser tua. Faz assim, assim mesmo. Como agora, como dantes, como durante todos aqueles momentos que trazemos em nós. Não penses em nada mais. Deixa-te levar pelo teu desejo. És capaz de sentir o batimento nervoso do meu coração? Toma-me nos teus braços fortes e sedentos da minha pele e do meu toque. Dou-te aquilo que queres. Gostas? Isso...
Joga-me uma e mais uma vez. Ama-me como eu quero. Faz assim.
Envolvo-te com as minhas pernas.
Dá-me o que eu mereço.
Humm!..., gosto disso.




(Porque o mundo não é só feito de palavras bonitinhas...)

3 de junho de 2010

Fresco da Madrugada

Pensei em ti na noite passada. Tive dificuldade em adormecer. Talvez seja do peso da responsabilidade que tenho sobre mim. Olhei para a janela cerrada e desejei que fosse aberta por ti. A noite é longa e silenciosa. Dizem que é à noite que tudo é pior. A dor física e espiritual e o mal-estar que invade as nossas almas. Sabes, chorei. Mas não chorei muito. Chorei aquilo que me apeteceu; o meu coração gritou aquilo que estava preso dentro de si. Parei e escutei. Ouvi um carro ao fundo. Serias tu? Não! Que delírio. O relógio marcava as quatro da madrugada e não poderia ser um sinal de ti. Era tão bom que fosses tu, que pegasses na minha mão e me levasses a passear pelo fresco da madrugada. Gosto de sentir a brisa da madrugada em mim. Sim, iria com o meu pijama de Verão. Assim mesmo, como se estivesse a dormir. Sentar-me-ia no teu carro e sorriria perante as coisas mais ridículas que passassem pelas nossas cabeças. Sim, queria que me levasses a passear no teu descapotável. Sentir o vento da velocidade em nós e o peso excitante da tua adrenalina a conduzir. Olhar para ti como dantes, beijar-te a face fria e doce. Amar-te como nunca te amei. Fazer-te feliz e dar-te o que de melhor tenho em mim. Voltaríamos pelo nascer do Sol. Agarrarias em mim ao colo e deitar-me-ias sobre as almofadas coloridas da minha cama. Consigo sentir o teu beijo de até já. Soa a felicidade plena.
O carro passou e não eras tu.
Não vivi o que desejei ardentemente.
Mas o meu sonho acordado juntou-me a ti.



(Um dia viveremos isto, tenho a certeza...)

1 de junho de 2010

Palestra sobre Bullying, Delinquência e Violência

Ontem, inserida na aula de Psicologia, estivemos numa palestra subordinada aos temas Bullying, Delinquência e Violência. A princípio, não estava muito interessado em ir, mas acabei por fazê-lo, até mesmo porque levaria falta de presença caso não fosse. O público era bastante heterogéneo. Desde professores a alunos, eram bastantes as pessoas que resolveram assistir a este debate. E digo debate porque foi pedida a interacção do público assistente, com perguntas feitas no final da palestra. Os oradores eram três psicológos com intervenções em variadas áreas da Psicologia que, sinceramente, não fixei na memória. Eram jovens e via-se claramente que não tinham muita experiência.
Tivemos uma apresentação em power point relacionada a estes temas e, de seguida, foi-nos pedida a colocação de perguntas e dúvidas. Na altura em que soube da realização da palestra, decidi que iria colocar uma pergunta sobre o bullying homofóbico ou homófobo, afinal, é uma das vertentes mais violentas e menos abordadas deste fenómeno ligeiramente recente. Durante a apresentação do power point reparei que, no capítulo sobre as variantes do bullying, existiam menções ao bullying xenófobo, religioso, mas não ao homofóbico/homófobo.
Com o final da intervenção dos oradores, e depois de uma aluna ter colocado uma pergunta, coloquei o dedo no ar e pedi para colocar uma questão.
-"Boa tarde, o meu nome é (....) e queria colocar uma questão. Reparei que no power point, no capítulo dedicado às vertentes do bullying, não referiram o bullying homofóbico ou homófobo que é uma das vertentes mais violentas deste fenómeno. Gostaria de saber o que pode ser feito em prol da comunidade LGBT, de forma a atenuar as consequências do bullying. Em segundo lugar, o que poderá ser feito pela comunidade escolar, articulada com pais, alunos e educadores, para melhor esclarecer as pessoas sobre as questões da orientação sexual, de forma a evitar este fenómeno? E já agora, porque será que o bullying homófobo/homofóbico ainda é pouco abordado e reconhecido pelas entidades oficiais? Obrigado."
Na verdade, foram várias questões inseridas numa única.
Um dos psicólogos, uma psicóloga, começou a responder à minha questão e fê-lo muito bem. No entanto, quando passou a palavra ao seu colega, tudo piorou. Estranhei um pouco a sua forma de estar e houve algo que suscitou as minhas dúvidas em relação à sua sexualidade. Era bastante delicado e as respostas que me deu vieram confirmar as minhas suspeitas. Fase de negação!
Em primeiro lugar, disse que todos temos o direito de vivermos livremente a nossa «opção sexual». Em segundo lugar, disse que a «identidade de género dos homossexuais deve ser respeitada», para além de um discurso pouco explícito e confuso.
Isto dito por um psicólogo deixa-nos com sérias dúvidas sobre a sua credibilidade. Ainda durante a sua resposta, pedi a palavra e disse-lhe:
-"Peço desculpa, mas a homossexualidade não se trata de uma opção, mas sim de uma orientação sexual. Ninguém escolhe a sua orientação sexual. Somos heterossexuais, bissexuais ou homossexuais independentemente da nossa vontade!"
Ficou constrangido e anuiu ao que eu disse. Ainda pensei em esclarecer a confusão que ele fez entre «orientação sexual» e «identidade de género», porém, não o fiz. Iria deixar o psicólogo mal visto e achei desnecessário. Tinha o dever de saber a distinção entre estas terminologias para não dizer disparates.
Quando acabou, saí e fui para a aula de Português.
A palestra foi medíocre e não achei minimamente interessante ou elucidativa. A partir do momento em que um psicólogo não tem conhecimentos - ou não os quis mostrar - da realidade LGBT, perdeu toda a credibilidade. Atribuo este facto à sua visível inexperiência, apesar de não o desculpabilizar de forma alguma.
Ainda existem muitas pessoas que negam o preconceito para com a comunidade LGBT. Não interessa, é melhor esconder. E como não interessa, a obtenção de conhecimentos nesta área é totalmente dispensável.
Que mal vai este país, quando um aluno esclarece um psicólogo.