27 de maio de 2010

Vontade de Ti

Fiquei tão feliz quando soube que irias. Confesso que não esperava. E a verdade é que o dia ganhou um outro sabor, uma outra vida. Pelo menos, foi assim para mim.
Cheguei mais cedo do que o previsto, não fosses chegar primeiro do que eu. Queria ser o primeiro a olhar para ti, a desvendar a tua reacção perante a minha presença. Já tinhas chegado. Ironia do destino, pensei.
"Será que veio mais cedo com a mesma intenção que eu?"
Estavas assim, encostado ao portão, a mexer no telemóvel de uma forma concentrada e minuciosa. Eram sete e cinco da manhã. Sentei-me calmamente no degrau baixinho que suporta as grades metálicas.
"Repara em mim, repara em mim, repara em mim...", pedia ansiosamente entre murmúrios interiores.
Olhaste, fixaste-me. Tenho a certeza, senti-o. Tive, por um breve momento, um impulso para me dirigir a ti, quem sabe cumprimentar-te e falar um pouco. Evitei-o. Terias de começar. Senti que quiseste fazer o mesmo, no entanto, algo impediu-te.
Aos poucos, todos começaram a chegar, incluindo os teus amigos.
Durante a viagem, tentei ouvir o que falavas. Escutei as tuas piadas sem graça e as tuas manifestações de masculinidade.
O dia foi longo e eu sei que não te era indiferente. Querias agir com normalidade, mas não o conseguias na íntegra. Sorriste, por vezes, quando eu falava algo. No fundo, querias dizer:
"Não posso mais, mas estou aqui..."
Andámos juntos, lanchámos juntos. Rimos com as mesmas situações, vimos as mesmas imagens. Por vezes, olhavas sorrateiramente para mim. A cada olhar teu, nascia uma felicidade em mim.
Quando fomos comprar um gelado, deixaste cair o papel sobre o meu colo.
-"Oh, desculpa!", disseste.
Disfarçaste tão mal. Soou a algo como:
"Não me desculpes, quis mesmo que olhasses para mim e quis falar contigo..."
Durante toda a tarde, não te quis perder de vista e notei que abrandavas o passo para que eu te pudesse seguir.
À noite, no regresso, desejei que me tocasses. Estava à tua espera, silenciosamente esperando por ti. Não dormia, não dormias. Olhei e não te vi. Onde estarias? Ah, estás aí.
Esperei e esperei... Adormeci ao som de No One da Alicia Keys.
Sonhei meio acordado, com o teu beijo, o teu abraço e o teu afago.
Nada disso aconteceu.
A noite estava fria.
Mas esse não era o pior frio.
O gelo que tomou a minha alma doía bem mais.

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